Meio da manhã de céu azul, a vizinha do prédio chique do Itaim-bibi sai pela portaria cheia de seguranças de ternos pretos e radinhos na mão. Fingem que não percebem a gostosura da dona. Que foi passear com o cachorrinho, talvez uma cachorrinha, tão engraçadinho e bem cuidado o bichano.
Blusinha fininha, cor-de-rosa, calça branca até a canela, dois brincões, colares, pulseiras, anéis, no pé também, reloginho, rouge, baton, base, sombrinha, lapisinho, óculos Armani no decote da blusinha e sandalinha salto 9, sem bolsa e nem celular, assim bem simplesinha, só para uma voltinha.
Nem meio quarteirão, o bichinho pára e começa a fazer cocó. Ela pega um saquinho, recolhe a obra, põe numa lixeira do outro prédio, e volta para o seu, feliz e correta. Os seguranças ordenam lhe seja aberto o portão, e mais uma vez respeitosos, em vez de pensar naquilo, fingem: que bela cagadinha.