Tarde de sol quente, ele vinha andando no tempo de seus 80 anos, aproveitando as sombras que as árvores da rua lhe davam de espaço em espaço.
O trinado do canário da terra começou a lhe chegar aos ouvidos, dando um novo ar ao dia que passava lentamente. Seus olhos se levantam do chão e logo encontram a casa de madeira, e jardim bem cuidado. Na pequena varanda está a gaiola. Ele chega até o portão e pára. Que bonito! Uma pessoa da casa vem lhe convidar para entrar e sentar um pouco na varanda , todo mundo faz isso, o senhor quer uma água? Não obrigado, vou escutar mais um pouquinho e vou embora, obrigado. Candura do interior antigo.
O velho senhor vai longe em seus pensamentos, recolhe-se em quase um século de vida. Minutos depois se levanta, vai até perto da gaiola, como a lhe prestar uma homenagem. Abre a portinhola, solta o passarinho e vai embora, pelas sombras e pelo silêncio.