- Tia , compra uma balinha?
Olho , deparo-me com um criança.
Vestido roto, pés descalços, caixa nas mãos. Pacotes de balas, com certeza.
Imensos olhos cor de mel. Não há como não os notar. Expectativa, esperança, encanto e deleite.
Sentimentos contraditórios a fluir no abismo profundo das escuras pupilas que me fitam. Fração mínima de tempo . Caledoscópio de cores , infinitas emoções.
Inocência pura - pura inocência.
Sensação boa! Compro as balas. É pouco, quero ajudar. Devolvo-as. Mensagem muda, largo sorriso aparece. Felicidade plena!
Gosto de festa. Carinho avassalador. Limpidez de alma, um mundo a vislumbrar.
-Obrigada tia.
Atónita observo ato imediato, repassar, como presente, a outras mãos.
Protesto :
- A intenção era ajudar, não presentear.
Olha-me de viés, com surpresa . Calo-me. Recado imediato recebo através daquele coraçãozinho que vibra com o ato de doação.
Sai correndo lépida e fagueira, nem olha para trás, vendendo sol e felicidade. Vai em busca de novas paragens, benesses e calor humano.
Levanto-me de onde estou. Saio caminhando e na tarde que se esvai firmo o meu pensamento, meu desejo e em sintonia com o universo surge-me a certeza - nada e ninguém nem a vida há de vencer e de domar aquele indómito coraçãozinho.