Sabe aquele bar que fica lá naquela esquina, onde muita gente gosta de passar horas conversando, bebendo, namorando ao som de um violão que quase ninguém escuta?
Também pudera. É muito difícil mesmo escutar o violão se ficam xeretando as conversas dos outros...
- E aí, cara! Fazia um tempão que não nos víamos. Como vão as coisas?
- Indo...
- E a Silvana? Resolveram morar juntos, afinal? Amigo sumido é amigo casado.
- Perdi a mulher.
- Como assim?! O que você aprontou, António?
- Adquiri o maior defeito que um homem pode ter.
- Não consigo imaginar qual seja. Afinal, dependendo da mulher, nosso pior defeito pode ser este ou aquele. Fala!
- É como um càncer. Vai corroendo aos pouquinhos no início e acelera incontrolavelmente no final, quando já não temos forças para lutar.
- Meu Deus! O que pode ser tão sério assim?
- Perdi o emprego, o mercado de trabalho está saturado e por isso perdi a mulher.
- Não acredito! Nunca pensei que a Silvana fosse uma dessas. Puxa! Quem diria...
- Pois é. Mas vamos falar de você. Como vai a Luísa?
- Ah, amigo! Pois a minha sorte não é melhor que a sua. Perdi a mulher por uma bobagem. Dinheiro, pelo menos, é algo importante na vida das pessoas.
- O quê?! Brigaram de novo por causa da louça na pia? Vocês realmente brigam por besteiras que não são motivos de separação.
- Que louça que nada! Perdi a Luísa porque não falei. Não disse o que ela sabia mas queria ouvir mesmo assim. Eu não pude, entende? Tem certas coisas que não consigo falar.
- Mas o que era tão importante assim que você falasse? Era assunto sério, pelo visto.
- Ela disse que era. Para mim é bobagem. Para que verbalizar o que o outro já sabe que vai ouvir? É uma espécie de redundància, não acha?
- O que é que você não disse?
- Eu te amo
- Puxa vida! Não entendo mais nada. Parece que para algumas o óbvio é homem com dinheiro. Para outras, o óbvio não é o suficiente.
Quem diria hein? A Luísa...