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cronicas-->AUTO DA USINA - ATO I -- 06/12/2002 - 07:42 (Roberto Cursino de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Protagonistas: FÜHRER e MILENE ARDER


PRÓLOGO

Um palhaço apregoa:

"- Prezado público, o espetáculo que vamos apresentar é um espetáculo "sui generis", onde cada personagem escreveu sua própria fala. Devido a extemporaneidade da criação, tivemos como resultado uma espécie de non-sense, mas que nas entrelinhas pode conter alguma verdade ou algo de que possamos usufruir. Peço aos que ainda estão em pé que ocupem os seus lugares, para darmos início à apresentação; obrigado."

Apagam-se as luzes da platéia e o teatro mergulha na escuridão. Ao fundo uma cantilena monótona e ininteligível, que mal se ouve. O pano-de-boca abre-se lentamente para a esquerda e para a direita. No centro do palco vemos um ceguinho recitando cordéis, agora em voz alta e inteligível:

CEGUINHO:

As coisas estão subindo
Tá voltando a inflação
E esse voraz dragão
Agora tá ressurgindo
Nosso real tá caindo
E o dólar valorizando
A pobreza aumentando
Na ciranda financeira
Ganha a corja estrangeira
E o Brasil só se lascando.

........................................

As cabritas de Brasília
Fazem a diferenciação
Das cabritas nordestinas
Que vivem lá no sertão
Aqui tão andando nuas
Quase peladas nas ruas
Mostrando sua atração.

Elas usam mini blusas
Saias curtas demais
Ficam mostrando tudo
Mostra a frente e atrás
Ainda sai rebolando
Fica só provocando
Velho, menino e rapaz.

........................................

Antes que o pano-de-boca abra-se totalmente, dois holofotes são ligados e projetam luz sobre as extremidades do palco. O holofote da esquerda projeta luz vermelha e o da direita, luz azul. O ceguinho sai pelo fundo do palco e a cantilena vai diminuindo conforme ele se afasta, até não se ouvir mais nada. Com o pano totalmente aberto vemos à direita, sob luz azul, CECíLIA MEIRELLES, envolta em um vestido esvoaçante de seda branca, com os braços abertos, simulando um vóo. À esquerda, sob a luz vermelha está MACHADO DE ASSIS, carrancudo, com uma das sob o queixo e a outra na fronte, imitando "O Pensador", de Rodin. Entre os dois a escuridão e nenhum cenário.

MACHADO:

Eu conheço a mais bela flor
És tu, rosa da mocidade
Nascida, aberta para o amor.
Eu conheço a mais bela flor.
Tem do céu a serena cor
E o perfume da virgindade.

CECíLIA:

No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta.

MACHADO:

Eu conheço a mais bela flor,
És tu, rosa da mocidade.
Vive às vezes na solidão

CECíLIA:

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acaba todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

As luzes da ribalta acendem-se vagarosamente, até metade da potência, controladas por um "dimmer". Apagam-se os holofotes, saem CECíLIA e MACHADO. A ribalta se acende em toda sua plenitude.


PRIMEIRO ATO

Entram ADOLF HITLER e MILENE ARDER

FÜHRER: Pois é, agora o pessoal deu para reclamar de tudo. Que a Usina está uma merda, que ninguém se respeita, que os tempos mudaram, etc. Parece até meu avó falando com saudades do tempo do Getúlio, que aquilo era presidente, quase meio século nas costas... puta que pariu! Que nóia!

MILENE: Querido... Tua simplicidade me emociona. Pressinto, através do que escreves, uma alma pura, um ser carinhoso, afável...

FÜHRER: Colega, primeiro, devo agradecer as referências elogiosas que tu me fizestes. A maiorida das manifestações a meu favor ocorrem no "underground" do meu e-mail.

MILENE: Humildade é uma virtude, / Não tão fácil de rimar; / Quem acha que tem se ilude / E deixa o orgulho alastrar!

FÜHRER: Mein Liebe..., não sabes com que prazer recebo tuas correspondências. Pessoas inspiradas e bem-humoradas como ti são um bálsamo no meio desta Uzona de letras.

MILENE: Em se tratando de carência afetiva há coisas sobre as quais devemos usar de muito tato... Amamos o amor... Amamos o amar... E queremos amar... Amar sempre! É a Lei, não é?

FÜHRER: Amada,.primeiro peço-te desculpas, prostrado a teus pés, suplicante, pela demora em responder-te. Esta semana encontro-me deveras atarefado: Belzebu, Judas e Cérbero convocaram-me para uma reunião da alta diretoria às portas do Hades a fim de organizar uma re-estruturação do Habitat. Aguardo ansiosamente a chegada da noite, quando poderei te encontrar livre da presença dessas pessoas medíocres que nos cercam, com suas prosas detestáveis e seu palavreado vazio.

MILENE: A esta altura creio que já terás superado o impasse amoroso. O que tenho a dizer talvez não seja exatamente o que você espera.

FÜHRER: Ó amor, sofro com tua falta! Minhas correspondências não encontram retorno e mandei Cérbero em pessoa procurar-te em todos os confins da terra.... sem sucesso! Onde andas?! Sinto saudades da tua presença acalentadora na fogueira. Blondi uiva todas as noites clamando por ti... às vezes Cérbero se junta a ele e a cantoria prossegue madrugada adentro, até que Horus, o diabo-mor, lance seu tridente contra os mesmos, correndo e bufando fogo e enxofre pelas ventas... a vida no inferno às vezes não é mole.

MILENE: Caramba!
Soltaste mesmo o verbo...
Sabes... Gosto muito mais de ti, assim...
Despojado
Afrontoso
Em derribada e galopada ardência
Que te caracteriza Grande Poeta.
Avante, gajo!
Prá frente!
Que atrás vem gente...

FÜHRER: Tu estavas sublime sob o luar, diante das ruínas do parlamento, querida. O Reichstag te trouxe muitas lembranças!? Te rever, depois de todos esses anos, foi como mergulhar na juventude outra vez, beber a fonte inexaurível do amor, erguer-me aos céus e tocar as trombetas junto aos anjos e arcanjos.

MILENE (devaneando): Ah! Como é maravilhoso saber que o Universo inteiro está ao nosso dispor. Basta abrir a mente e captar as silenciosas mensagens. Há tanta simplicidade na VERDADE das coisas, que os olhos humanos tendem a fechar-se diante de luz tão suave e reveladora.

FÜHRER (sonhando acordado): Relembrando hoje todos aqueles momentos, ainda não sei por que Fraulein resolveu ficar ao meu lado, mesmo sabendo que jamais poderia dedicar-lhe aquilo que ela mais desejava: uma casa, crianças, cachorro no quintal (bem, ao menos tínhamos Blondi), horário para chegar em casa, trabalhar, Wagner à noite, vinho, leituras e conversas ao pé da lareira...

MILENE (acordando do sonho): Suas palavras têm a grandeza dos sábios e a simplicidade dos sensatos... A verdade de tudo o que diz é incontestável e alentadora. Não há quem o possa negar. Quanto ao negativo que, porventura, se apresente, é comum, num ambiente em que muitos resolvem promover um ESTADO DE PAZ... Vence a VERDADE... Única... E que não admite atalhos de discórdia e mau agouro.
UM BOM FINAL, DEPENDE, SEMPRE, DE UM RECOMEÇO...

(Enquanto eles saem de cena, volta o ceguinho e o pano fecha-se vagarosamente)

CEGUINHO: Há um universo infinito
Que grita, dentro do peito,
Clamando por liberdade
Chama-se: Amor Perfeito

E esse Amar maravilhoso
Que abrigamos em nós
Pode ser manifesto
Quando usamos a voz

Quando falamos palavras
De carinho e incentivo
Ao ajudarmos alguém
Granjeamos o amigo

E quando atentos ouvimos
Permanecendo calados
Honramos a quem nos fala
Para sermos amados

FIM DO PRIMEIRO ATO
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