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cronicas-->ECOS -- 26/12/2002 - 16:06 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ecos

Tem hora que penso que estou ficando louca. Hoje, o sono não vem e aparece uma esquisitice assim de sentir calafrios por dentro, como se, de repente, um perigo muito grande estivesse chegando e eu só soubesse que ele vem, mas, mesmo olhando para todos os lados, não pudesse ver nada. É uma sensação. Acho que choro por dentro. Chorar por dentro é pior que por fora, por dentro a gente engole e tudo vai para o sangue que fica contaminado de uma doença sem nome. Tudo tem tão pouco nome que talvez fosse melhor ser nada. O nariz escorre e me dá uma vontade grande de assoar na barra da colcha. Não faço por convenção, não é certo assoar o nariz na barra da colcha. Dá para ouvir o eco da voz da minha avó: "Você não sabe lavar nem uma xícara", "Quero só ver quando casar e tiver marido", "Precisa fazer corte-e-costura". Odiava ser mulher naquela época. Os paninhos da menstruação de molho no balde. E eu ficava quietinha, espiando os meninos correndo pro rio numa tarde quente e cheia de sol. Imagem romàntica essa daí. De repente me pego mulher em algo que vivi. Mas nunca assoei o nariz na barra da combinação. Até porque nunca usei uma na vida. Ia dizer "não é do meu tempo", mas lembrei que usei "paninhos". Pois já vou dizendo que o tempo não me assusta. Se me abocanhar com fome, nem vai perceber o quanto de amargo tem aqui. Eu comia almeirão e ia fiscalizar no espelho se não tinha nenhum verdinho entre os dentes. Um dia vi na boca da vizinha. Aquilo me deu nojo, ai que vontade de falar!, e minha mãe fazendo cara feia com medo que eu soltasse outra daquelas. Ainda agora tenho esse costume de conferir a cara no espelho logo depois da comida. Acho que são defeitos que a gente guarda com o choro engolido. É disso que estou falando desde o começo. A gente se repete sem perceber. Se ontem eu odiava os "paninhos", hoje sinto falta deles. Na minha cara correm sulcos e o verdinho que procuro no dente pode nascer do meio da pele. A única certeza é mesmo essa. Tempo-vilão-que-abocanha. A gente lá debaixo da terra, ainda quente e molhada de chuva. É claro, se alguém tiver coragem de soltar uma lágrima. Senão, vira deserto e não produz. Nem faço caso, fui árida toda a vida, amarga como os frutos que não tive.

Érica Antunes

erica@navedapalavra.com.br
Érica Antunes é advogada e professora.



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