Os cristais de Davos
Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Mais uma polêmica ronda o destino de Lula. Uma falsa polêmica. Não vejo o porquê dessa celeuma, se Lula foi convidado, é evidente que irá ao 33o Fórum Económico Mundial na Suíça.
Não podemos esquecer que no primeiro Fórum Social Mundial houve uma teleconferência entres os fóruns de Davos e Porto Alegre. Então, não há razões nem coerência para impedirmos a ida de Lula lá. O que o presidente Lula fará em Davos? O que tem feito nos últimos 22 anos e amadurecido nos últimos dois. Dialogar e conversar sobre os problemas que afligem o povo e a humanidade. Dizer que há um limite para a riqueza e um limite para a pobreza. O fato de Lula ser contra a globalização e ao neoliberalismo não é empecilho e nem motivo para que não vá ao Fórum Económico e dizer isso a eles.
Lembremos que é o presidente do Brasil que irá a Davos e não o presidente de um partido político ou de uma central sindical. Um estadista estará representando o outro lado do capital, o lado humano da moeda. Além do mais, Lula não venderá o país. Apenas, reafirmará ao capital internacional o que vem dizendo há muito tempo, dirá ao mundo que o mundo passa fome.
Lula, em Davos, credencia-se para ser o interlocutor do 3o mundo. Como representante dos excluídos, tem que ir aos Alpes suíços e, durante o tilintar dos cálices de cristais no jantar regado a vinho francês e das guloseimas finas em pratos de porcelana, dizer em alto e bom som que o mundo passa fome, que a miséria pede ajuda e compreensão dos poderosos. Marx não imaginaria um exercício dialético dessa magnitude. Discutir a fome diante dos "Cristais de Davos". Esse pessoal, que detém o poder e a riqueza, tem que entender que a fome mata e mata aos pouquinhos. A fome é má.
Um presidente de uma nação falando sobre o projeto fome zero! Existe algo mais importante para a humanidade no século atual? Há um planeta que passa fome, um exército de famintos que andam rotos, desnudos e não cobrem suas vergonhas. Perambulam nos grandes centros ou estão inertes nos confins da Terra, desnutridos a espera de um prato de comida. São homens jogados ao vento, seres que catam tralhas e migalhas; humanos que a vida encerra.
Enfim, uma sugestão mais radical seria de que todos os participantes, delegados e conferencistas, de Davos e de Porto Alegre, deverão chegar nos referidos fóruns num jejum de no mínimo uma semana, "tortos de fome", para discutir a fome no mundo.
Arrisco a dizer que bastará um dia para solucionarmos o problema da fome, da miséria e da exclusão social. E ainda encerraremos as discussões com um grandioso churrasco no Galpão Crioulo do Parque da Harmonia.