Uma certa ocasião, na época do Cinema Novo brasileiro, eu vi uma cena de um filme que estava sendo rodado, em Caxias. Foi na linha ferroviária próxima à cancela da Travessa Vitalina, bem atrás do Cinema Brasil que dava frente para a Avenida Duque de Caxias. O mocinho da fita era o galã Milton Rodrigues. Havia tanta gente assistindo à s filmagens que tinha até pipoqueiro e vendedor de laranja descascada.
O bandido do filme havia sido flagrado pelo mocinho dentro do cinema e fugira pelos fundos. Nessa escapada, ele passava por um valão entre as casas, saía na Vitalina e corria pelos trilhos da via férrea, sendo então morto pelo mocinho. Este, todo garboso, em passadas atléticas, como era de praxe as passadas dos mocinhos, vinha atirando até acertar seu alvo em posição espetacular, para o alcance das lentes da máquina filmadora.
A platéia, em grande expectativa, torcia. Alguns abertamente estavam do lado do bandido, enquanto algumas meninas suspiravam pelo mocinho.
Já previamente combinado com um grupo dos que auxiliavam nas filmagens, após a queda do facínora, a multidão aproximava-se e dava vivas ao sucesso do herói. O bem venceu o mal.
Circunspecta, mas talvez pelo entusiasmo com as filmagens, a multidão foi muito maior que o esperado nesta cena final. Acabou que o revólver do bandido desapareceu. Aos gritos do diretor, procurando pela arma desaparecida a multidão se dissolveu completamente.
O Cinema Novo brasileiro acabava de ser roubado em Caxias.