Maltrapilha, mal conseguia segurar os bilhetes de loteria que trazia nas mãos.
Com sua voz frágil dizia, quase num sussurro:
- Quem pode comprar um bilhetinho, para me ajudar, por favor?
E o povo passava por ela e desviava-se sem olhar, como se passa por um bueiro aberto...
Notava-se no rosto sofrido a angústia de uma alma pobre.
E o bilhete em sua mão permanecia... Inteiro ainda...
Parada a uma sombra, em frente ao Ministério do Trabalho, para uma audiência, eu a observava.
Talvez tenha naquelas mãos calejadas a solução para muitas vidas: "O Grande Prêmio da Loteria Federal"...
A todos que passavam, oferecia... Mas ninguém se dava conta daquela presença.
Até que, vencida pela insistência, deu um suspiro e sentou-se na calçada... Cabeça baixa, a pensar, talvez, nos filhos famintos que havia deixado em casa, ela olhava para a "sorte grande" que tinha nas mãos...
Paradoxal situação: na sua pobreza, tão evidente, oferecia riqueza aquela que nem tinha um pedaço de pão.
E eu ali... a aguardar, esperançosa, o veredicto da "Justiça do trabalho", por alguns trocados a mais, que, provavelmente, seriam gastos com coisas supérfluas...
Comprei um bilhete que não foi premiado... Mas um ser humano "injustiçado" ganhou alguns minutos de minha compaixão...