Todos os grupamentos humanos precisam de leis que os orientem. Desse modo, é impossível imaginar um clube de donas-de-casa, um sindicato - ainda que do crime -, uma associação, por mais simples que seja, funcionando a contento, se não tiver um estatuto que determina a conduta interna de cada membro. Se isto vale para um grupo restrito, muito mais há de valer (ou haveria?) para um grupamento grandão como um país, mais grandão ainda, como o Brasil.
Mas parece que não é assim.
Aqui existem leis - leis demais, diga-se de passagem - que pouco servem, salvo algumas exceções, quando os seus beneficiários são o povo. Nesse caso, se a lei beneficia o povo e os "donos do povo" não querem isso, eles a revogam, anulam, legislam outra da noite para o dia a fim de que sejam atendidos os seus propósitos (dos donos do povo). E se as leis não favorecem a esses donos do povo, overnight eles mudam tudo, valendo-se do mesmo processo anterior e, uma vez mais, com o intuito do favorecimento pessoal ou de um pequeno grupo que acaba sendo pessoal do mesmo jeito.
De repente, alguém dá o grito, ou um grito, quando o assunto é do seu interesse, caso contrário, todo o mundo faz que não vê.
Um exemplo que pode ser colocado são os medicamentos em relação à prescrição médica; um outro, a propaganda política quando ainda não é permitida.
Não devia ter propaganda de medicamentos pois esse é um assunto que, originariamente, deveria ser absolutamente restrito aos médicos. De qualquer forma, Estomazil: ferveu, tomou, passou..., Gelol: passa gelol que passa..., Elixir 914: o elixir da boa saúde. Acnase - creme e gel: totalmente absorvido pela pele. A persistirem os sintomas, procure um médico. Acontece que o médico é quem deveria receitar o tal gelol, o estomazil, o tal 914 e quaisquer outros das dezenas anunciadas em qualquer horário e em horário nobre. Mas não; só depois que eles forem ministrados, se tudo der em nada, ou se der tudo errado, ou depois que a doença já estiver mascarada pela medicação que fica na boca da caixa do mercado, mercadinho, mercadão e até das farmácias, é que a orientação é chamar o profissional. Aí, talvez, já nem adianta mais, que a coisa já se complicou.
Do mesmo modo, não deveria ter propaganda eleitoral antes do tempo. Propaganda de feito de governo, então, nem pensar. Pagar pra dizer que fez? E se tiver mesmo feito, não fez nada mais do que a obrigação. Mas, não. Alardeiam que fizeram e, na maioria das vezes, não fizeram nada. Mas o povo, que é propriedade desses donos, acredita. A Previdência vai atrás de cada brasileiro. Ligue 0800 ... para desconto automático. Você terá direito a aposentadoria, assistência médica, auxílio-doença. 8 Governo do Brasil. Se o seu médico esquecer de receitar o Genérico, lembre-o. Genérico, com G de Gugu. 8 Governo do Brasil. Se Popó tivesse esse gás todo desde pequeno, hoje, ele virava peso-pesado. 8 Governo do Brasil.
Será que ninguém sabe o que quer dizer 8 Governo do Brasil? Claro que todo o mundo sabe. Mas continua sendo veiculado, apresentado por personalidades, artistas e empresários. Aqui, pela mãe do Popó; ali, por Gugu; mais além, pela Regina Casé... E a propaganda eleitoral vai sendo propagada apesar de a lei dizer que não pode. 8 Governo do Brasil.
Mais para o Norte, a governadora do grande Estado aparece nas pesquisas como a salvadora da Pátria, candidata de grande aceitação, a grande chefa do estado de maior envergadura nacional (Oh, tristeza!). Tudo bem, tudo bem. Deixa pra lá. Mas a polícia cumpre Mandado da Justiça, descobre coisa incontestável (que já vinha procurando há tempos!) e a curriola diz que é mentira, que é perseguição. Ainda que fosse. Se nessa perseguição fosse descoberto algo que desabonasse... passaria a ser qualquer coisa, menos perseguição.
E vêm papai, maninho e amigos. Rompem com tudo e com todos. Fazem beicinho, batem o pé, birrinha de catarrento. Papai vai falar, 26 páginas, dizer que Democracias acabam com atos como esses. Parece que papai quer dizer que pór as coisas em pratos limpos acaba com a Democracia.
Mas não adianta ficar aqui desfilando mutretas pois elas não acabam. Estamos no Brasil, lugar que os estrangeiros dizem que é uma beleza. E tem de ser mesmo para eles. Afinal, aqui, eles encontram de tudo, entram como e quando querem.
O Brasil aceita tudo. O Brasil não é bom é para o brasileiro. E não é bom devido aos erros de fabricação, o que quer dizer que o Brasil ainda não está pronto, ainda não é definitivo.
Em informática um programa novo, antes do lançamento definitivo, é chamado Beta. É para ser usado experimentalmente para que se descubra algum possível defeito involuntário; é um período, não longo, de testes. Normal. Quando eventuais defeitos são encontrados são corrigidos, e a versão passa a ser definitiva.
O Brasil também tem os seus problemas, os seus defeitos de fabricação como os programas de computador. A diferença é que os problemas do Brasil são nada involuntários. Quem sabe os defeitos do Brasil não sejam porque, na essência, ele seja um Brasil escrito com B de beta, ou B de bug... talvez B de shit.
8 Governo do Brasil.