Naquela época, quando a garotada saía do Colégio Regional de Meriti, havia sempre um grupo que passava pela fortaleza do homem da capa preta, na expectativa de vê-lo sair, com seu imenso Cadillac, através das portas de aço. Segundo a lenda, a fortaleza era intransponível e havia muitos labirintos e túneis para a possibilidade de fuga de seu ilustre morador que costumava curtir pistolas e metralhadoras.
As muitas lendas que existiam em torno da figura do Deputado Tenório Cavalcanti - dono do jornal Luta Democrática e considerado pelos políticos adversários como " O Pistoleiro da Baixada"-, tornava-o para a garotada da aldeia um ser mítico que povoava o imaginário de todos. Houve uma passagem em que um de seus desafetos o encontrou em plena feira, que existe até hoje aos domingos, atirou à queima-roupa, em seu peito, seguidas vezes. Por não ter morrido, a partir desse dia, as pessoas passaram a acreditar que ele tinha o corpo fechado.
Uma ocasião, de muita outras, meu grupo descia pela Rua Belisário Pena, endereço do Regional de Meriti e que desembocava na antiga Rio-Petrópolis, atual Presidente Kennedy, onde ficava a fortaleza, defronte ao terminal rodoviário da Rua Plínio Casado, quando alguém que passava falou que o "Homem" estava saindo. Correndo, chegamos a tempo de ver aquele carrão pilotado por um motorista enquanto no banco traseiro lá estava ele. Vestido todo de preto, com sua capa famosa, seu chapéu, segurava na mão a não menos famosa Lurdinha, uma metralhadora igual aquela usada por Al Capone nos filmes que a gente via no parque.