- Pai, eu quero um sininho.
Aquelas foram suas últimas palavras antes de dormir.
- Tá, filha. Amanhã o papai compra... - falei cobrindo-a.
- Num esquece, viu? Beijinho.
- Beijinho.
No outro dia, já esquecido da minha promessa, fui para o trabalho e tive mais um dia estressante criando uma propaganda. Estamos ha dois dias bolando a nova campanha de uma bicicleta famosa, mas nenhuma parecia ser "a propaganda".
Fim da noite, já morto de cansado, chego em casa e me deparo com minha filhinha de quatro anos deitada no sofá.
- Ela disse que ia esperar o senhor... - disse a empregada.
Levei-a para sua cama e, quando já estava saindo do quarto, ela me chamou.
- Que foi, filha?
- O senhor promete que não esquece do meu sininho?
- Prometo... Agora vá dormir que já está tarde.
Nos dias seguintes a mesma coisa. Ia para o trabalho e ficava a tarde toda quebrando a cabeça com a campanha e sempre esquecia do sininho da Luísa; só não entendia direito por que ela queria um sino, mas tudo bem. Não ia desfazer sua vontade.
Porém meu esquecimento estava causando uma certa falta de paciência na minha pequena. Esperta que só ela, todo dia arranjava uma maneira de lembrar-me da promessa.
Na segunda, ela ligou pro meu celular no meio de uma reunião; Na terça, ela trocou meu talão de cheque por um bloquinho do Mickey onde estava escrito : "Não se esqueça do meu sininho"; Na quarta, ela colou papéis por toda casa com a mesma mensagem; e assim foi a semana toda.
Na sexta, com a campanha concluída, saí mais cedo do trabalho e comprei o bendito sino para a menina.
- Olha o que o papai trouxe para a Lulu!
- Meu sininho!
Ela pulou no meu pescoço, me deu um beijo e pegou o pacote nas minhas mãos; abriu-o apressada e ao ver o sino, pós-se a tocar repetidamente por alguns minutos.
- Filhinha, você podia dizer ao papai por que queria tanto esse sino? Não é nem Natal...
- Sabe o que é, pai? É que há umas duas semanas eu vi num programa de televisão que toda vê que toca um sino, um anjinho ganha asas, aí quis ajuda-los...
Olhei para o seu ingênuo e sorridente rostinho e dei-lhe um abraço. Tão preocupada com os anjos, meu anjinho deu "asas" Ã s minhas idéias, afinal de contas, como você acha que criei a frase: "Pai, não esqueça da minha Caloy"?