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cronicas-->"Push the Bush" -- 31/03/2003 - 10:49 (Leonardo de Oliveira Teixeira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
`Push the Bush´
Leonardo Teixeira
leoarietto@globo.com
Publicada no jornal O Popular no dia 31/03/03

"Empurre o Bush", talvez, ladeira abaixo. O grito ecoa áspero nesse mundão afora. Nos arredores da terra sagrada, nas areias escaldantes, rebatido, o eco, nas Filipinas, na Europa e suas penínsulas, no oriente, no Brasil, e até mesmo dentre os americanos poderosos.

No tempo de guerra, a importància da paz é lembrada. Depois que alguém morre é que se faz homenagens , já com uma saudade precoce. É estabelecer a guerra para se manter a paz. Exigir o desarmamento do Iraque para maior segurança no mundo (onde está escrito mundo, leia-se: para os EUA atacarem sem chances de contra-ataques). É um lixo de contradições que se denota e conota o tempo inteiro, não importando qual das figuras de linguagem.

É, seu Caetano, "alguma coisa acontece no meu coração", que só quando saio da fumaça e dos concretos, que eu sinto o mundo viver. Na poesia realista da urbanidade, vejo o caos reinar num mau gosto completo. "É que Narciso acha feio o que não é espelho". Um pingo de esperança se desfalece nessa orquestra da vida, já que Bush, com sua testa franzida, continua a ser o maestro. Mundo, tu "és o avesso, do avesso, do avesso".

A mente só não apavora quando se abre o colchete das velhas estradas. Depois do trieiro, o mourão da porteira range, e o pássaro de peito amarelo diz "bem-te-vi". Cachorros marrons, encardidos, da cor da terra, latem, anunciando a chegada. Ali você não é mais um ponto no meio da multidão, nem uma pedra, atrapalhando os caminhos de Drummond, você é único no meio do verde-cristalino da mata. O terreiro batido e a tapera de adobe não te privilegiam, nem te perguntam qual a sua posição social.

As flores respiram a brisa da felicidade. As mangueiras e os eucaliptos balançam, concordando. Tingir as mãos com o sangue da amora, o único sangue por ali. Pisar em terra úmida sem ter medo de cobras e outros seres alienígenas das cidades. Pisar sem mancar, como se tivesse as plantas dos pés de seda, acostumados com os sapatos, atrás das mesas de escritório, sem choramingar por uma pequena pedrinha, no chão desnivelado.

Lavar as mãos com a bola de sabão feito de cinzas - as sobras - depois de um almoço caseiro no fogão de lenha, com verduras da hortaliça. Nenhum espelho para alimentar Narciso. Nenhuma preocupação para esconder nas máscaras do rosto; aí você brinca com a contradição: calça a bota e bota a calça. As galinhas cacarejam, anunciando os ovos na moita de erva-cidreira. Um pão-de-queijo e um bolo saem do forno, cheirando fome gostosa.

O sabor dos pomos das pokãs, furtadas no terreno vizinho, lembra a infància. As capangas cheias de pitanga, caju, mangaba, graviola, araçá, marmelo, pequi, araticum (que parece ata), mama-cadela, murici, ingá (que parece algodão), jatobá (que prega no céu da boca), jabuticaba, e até gabiroba rasteira, suculenta, para entupir a nossa barriga pueril. O sabor do milho colhido na hora, assado à brasa, com manteiga e sal, vale a pena manchar os dentes de preto. Também vale pintar o rosto de vermelho com o sumo do urucum.

Não ter medo de ligar o rádio e ouvir a poesia pura de uma composição caipira - Zé Fortuna, Tião Carreiro, por exemplo - na viola que chora e comemora as lições de vida, as lembranças dos carros de bois, no tempo das prosas que reuniam o pessoal em volta de uma fogueira, sob um céu estrelado e uma lua clara que estimula as histórias fantásticas das lendas e terrores folclóricos.

O tempo andou mexendo com a gente. As distàncias nunca se aproximam. Enfurnamos na rotina casa-trabalho, gastando um bom dinheiro com a companhia telefónica, para não sermos tão anti-sociais. E alguns se lamentam da guerra iminente, num pequeno texto de jornal, consciente que suas palavras não vão modificar o mundo. Talvez, apenas crie uma curiosa saudade, meio chorona. Quem sabe?


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