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cronicas-->Papagaio Joaquim -- 02/04/2003 - 09:28 (Leonardo de Oliveira Teixeira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pub. em 28/01/03 no jornal O Popular

Papagaio Joaquim

Leonardo Teixeira

Dizem que bicho não pensa: age por instinto. Se não for muita ousadia freudiana, gostaria de duvidar, já que presenciei uma história que faz o pessoal da nossa floresta de cimento ficar encabulado.
Na roça de um parente, os recursos elétricos ainda não existiam. Tempo de lamparina, vela e lampião, mas quase nunca eram acesos. O povo dormia cedo, quando as galinhas carijós empoleiravam-se nas mamoneiras e o galo índio despedia-se do sol, no fim do crepúsculo.
A tapera de adobe estava muito conservada, apesar da quantia de anos já passados. O telhado era de palha de buriti e guariroba ("gueroba"). A mesa era rústica, de aroeira. Os tamboretes de ipê, fogão de lenha, jirau na varanda, próximo à cisterna, vassoura de piaçaba, enxada de guatambu etc.
Perto da bica e do monjolo, onde formava uma poça no córrego, para o remanso de pequenos lambaris, tilápias, cascudos e piaus, estava o poleiro, fixo na quina da parede, do papagaio Joaquim, o Quim, astro da casa. Foi salvo pela família das garras de um gavião, quando sua penugem ainda era rala e branca.
Antes de o galo cantar a alvorada, Quim já gritava "Zé, acorda, seu preguiçoso; vai tirar o leite das vacas! Maria, quero café com leite, Capricha no café!" Assim falava o príncipe de penas. O Quim era o tenor absoluto, imitava com proeza o canto das juritis, dos sabiás, das rolinhas, dos bem-te-vis, dos sanhaços e até cantava várias músicas, que guardava de cor na cachola.
Gostava de renhir com o Bolão: "sai pra fora cachorro sem vergonha!" E ainda latia, esbravejando. Adorava um chamego, principalmente do Zé.
Quim era de uma espécie muito rara, mais taluda, seu verde era mais fosco, o bico mais pardo, e a calda era azulada. Hoje em dia, até as licenças do Ibama são incomuns. Ele era capaz de dialogar conosco durante horas, refletir sobre os mistérios da vida e do universo. Quando havia alguma palavra mais desconhecida, ele respondia loucuras, mas às vezes perguntava o que era a palavra.
Certa vez, o Zé foi para a cidade estudar e trabalhar, e por lá resolveu morar. Casou-se e teve um filho. Depois de 15 anos sem retornar para a terra de sua mãe, a Maria costureira, resolveu fazer uma surpresa. Quim, o reconheceu de longe, quando acabara de passar pelo colchete: "Maria, faz café! O Zé está chegando e ainda trouxe uns companheiros pra prosear!"
Se esse comportamento for instinto, então o homem, como já disse Quim: "é bicho rasteiro que anda levantado; mais graúdo e também mais chato!"
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