UM SONHO
Ontem eu tive um sonho. Sonhei que havia viajado e, quando voltei, a minha casa jazia incendiada. O fogo destruíra tudo. A primeira lembrança da perda foi a de meus livros que havia na estante da sala. Imediatamente veio-me à memória o grosso volume do Ulisses de Joyce, A montanha Mágica e Doutor Fausto de Thomas Mann, a minha coleção de Os Pensadores, meus volumes de Nietzsche e tantos outros volumes que os via se condensarem em meu cérebro.
Não estava preocupado com outros bens. Nem mesmo com o aparelho novo de DVD, nem com toda a minha roupa, e nem outra coisa qualquer. Era a perda de meus livros que me doía mais no peito.
Ao lado morava uma vizinha. Imediatamente corri a casa dela na esperança de que alguns de meus livros foram salvos. Entrei e ela me disse que minha casa fora incendiada por vàndalos.
-- Meus livros! Algum foi salvo? - inquiri.
-- Algumas coisas foram salvas. Então guardadas nos fundos.
Segui com ela até os fundos de sua casa.
Haviam alguns moveis chamuscados e outros quebrados.
-- Essa saia e essas blusinhas são suas? - perguntou-me ela, pegando as peças de roupa.
-- São da minha filha.
-- Tem esses moveis aqui - disse ela indicando-os.
-- E meus livros? Não tem nenhum?
-- Infelizmente não. E quem ia lembrar de salvar livros! Havia coisas muito mais valiosas do que livros para serem salvos.
Então eu acordei.
Passei vários minutos acordado, tentando interpretar o significado daquele sonho. Mas essa não é minha especialidade. Por isso eu desisti. Era apenas um sonho sem pé sem cabeça e não valia a pena perder os preciosos momentos de sono por isso. Então virei para o lado e fui dormir.
Mas uma coisa foi fácil identificar no sonho: a minha paixão por livros e pelos autores acima citado.
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