Beirando a linha férrea, como quem vai para o cemitério do Corte Oito, partindo da cancela que havia próxima à casa do Tenório Cavalcanti e pelo lado da Itatiaia, logo na primeira elevação, existia uma fábrica de jarros ornamentais: era a Ceràmica Alcobaça.
Quando garoto, por uma época, eu trabalhara lá, depois que chegava da escola. Eu trabalhava à tarde.
Havia duas mesas compridas onde ficavam dispostos as operárias e os operários dos pincéis e das cores. A gente recebia uns jarros crus para, neles, pintar flores e paisagens que haviam sido pintadas tantas vezes que se tornaram o padrão da ceràmica. Eu não me recordo quem foi o primeiro autor das pinturas, mas eram bastante interessantes.Quando cheguei, a padronagem já existia era só pegar o jeito e mandar brasa, pois o salário era semanal e a gente ganhava por produção.
Depois de pintados, os jarros eram levados para o forno, vitrificados e, por fim, comercializados.Talvez, por as mulheres serem em maior número que os homens, pelo horário da programação das rádios ou até mesmo por serem a sensação na época, não importa, eu jamais ouviria tanto radioteatro na minha vida. Os rádios portáteis, e eram muitos, passavam a tarde toda transmitindo os dramas e as paixões nacionais. Passava minha tardes com tintas, pincéis , Paulo Gracindo e os suspiros pela Wanda Lacerda.Às vezes, um rádio transmitia uma estória enquanto outro transmitia outra e um terceiro lá no canto da mesa, tocava música.Tudo bem, era linha de produção e a gente só ganhava pelo que produzia. As rádios transmitiam mais ou menos cerca de 14 radioteatros por dia e, ao som da Nacional, Tupi, e Rádio Globo,os ceramistas da Alcobaça, pelo entusiasmo que trabalhavam, batiam recordes de produção.