Queria inventar uma história. Uma história emocionante, de amor, de paixão, de dar errado, mas só no começo. De dar certo no final. Fazer de conta que o cara perfeito encontra a moça perfeita e a vida deles se torna perfeita. Uma história simples. Descomplicada.
Em que o olhar diz tudo e a sensibilidade faz com que dois sentimentos se tornem um. Um só. A transcendência dos pensamentos, das borboletas na barriga, do formigamento das mãos.
Queria inventar essa história. Porque só assim ela poderia existir. Só nas letras, palavras, canções, pensamentos. Não na realidade. É a simplicidade dos fatos. Cruéis, mas simples. Não há essa história aqui. Não se pode tocá-la, senti-la, sabê-la. E ela permanece acima do humano, do possível, como uma estrela no mais alto céu.
Ora, olho para as minhas mãos, tão vazias. Tão vazias de alguém. Para segurá-las. Mas tão plenas do que escrever. Do que contar a alguém. Do que espalhar, impregnar no mundo. Tão ávidas por escrever tudo. Tudo o que sinto, vejo, sei, percebo, observo. Para propagar, guardar, sentir.
Sim, ao menos, se não tenho a história, a escrevo.