Eu nem não sei se é verdade, pensei quando falaram que podia cachorro no shopping. Mas que era costume, eu vi. E fui, mais o meu, amarrado pelo pescoço, feito as gentes de lá. Modos da cidade, puxar cachorro amarrado. Mas dentro de shopping, não é de todos não. Desse era, e dizem que dos mais ricos também. Nos mais, cachorro é cachorro, e não adentra.
É vida de rei, eu lhes conto. Até barbeiro eu vi tosando cão. Que vi também vestidos feito gente. Vocês podem rir, vosso riso tem siso. Não tem para eles, que lá nem vestem a roupa da lida que cobre os da rua. Mulher de bota, e à vista não se vê cobra ou carrapicho em canto algum. Chão de polido mármore. Disso pedi conversa, e ao jeito deles disseram que de terno branco não se vai à guerra. E é.
Ao que era, cachorro prá todo lado, mas não de vadiagem, todos presos. Convém não judiar com cão, por conta de seus senhores. Nem ralhar, mesmo se cagam. Disso os donos até parecem fazer gosto. Gente rica dando bosta catada para os peões do shopping, que as vão guardar em solicitude. Eu vi e lhes dou fé.