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cronicas-->O Hóspede -- 25/05/2003 - 17:14 (Thomaz Figueiredo Magalhães Neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Agora no inverno a casa acorda mais tarde. O dono não gosta de tomar café da manhã no escuro, por isso ele é servido às seis e meia. Vai quase até às sete horas, quando começam a chegar as visitas, que ele não recebe depois das nove. Aí é a hora de ler jornal, aos quase oitenta anos de idade, numa pequena cidade no extremo oeste do Estado de São Paulo.

O primeiro a chegar é recebido na varanda, o que indica pouca intimidade. É um vizinho de uma outra casa, que traz espigas de milho colhidas na plantação que lhe foi permitida no terreno dos fundos da propriedade vazia. Ele pode também guardar lá uma camionete que usa na fazenda. Em troca vigia também uma outra propriedade da família, especialmente para ver se o filho adolescente não vai lá transar com a namorada.

Chega outro visitante, que é recebido na sala. Velho amigo, embora ainda esteja na casa dos cinquenta anos, é um dos maiores negociantes da região, apesar do jeito muito simples. Já fizeram muitos negócios, e ele quer comprar um carro, "aquele que você me vendeu e comprou de volta". Não sai negócio, mas o carro lhe é emprestado, pelo tempo que for preciso. Quando começam a se despedir, o visitante ganha um presente. Um revólver Smith Weston calibre 32, que fora do pai do anfitrião, e está um perfeita condição, acompanhado de várias caixas de bala, que provavelmente não funcionarão mais, pela idade. Na conversa sobre armas, o amigo diz que só anda armado na fazenda de Goiás. Que lá não há roubos nem assaltos, o único problema são os homicídios, que acontecem a toda hora, sempre por discussões, geralmente regadas a bebida.

O visitante me diz que está ganhando um presente de pai, coloca a arma no cano da bota e vai embora. Pergunto então ao dono da casa porque está dando um revólver tão estimado, e ele me responde que essas coisas se dão para quem se admira, e que além disso anos atrás lhe vendera uma Winchester calibre 44 de sela, aquelas que tem cano curto. E que também está se livrando das armas, porque seu jovem filho anda de olho nelas. Fica só com uma pistola no criado mudo, e um revólver escondido atrás da pia do banheiro... porque houve um assalto na cidade, em 1956.

O velho senhor, que perdeu o pé direito há poucos anos, chama a empregada para servir mais café e trazer o jornal. São também soltos os dois cachorros da casa, que só entram nessa hora e ficam deitados quietos enquanto lê, fumando cigarros de palha. Formado em Direito, em Letras e História, tem dificuldade de locomoção, e por um acordo com a segunda mulher, escritora e professora com tese de doutorado sobre Adélia Prado, usa uma campainha sem fio para chamar as pessoas, sem ficar gritando ordens pela casa. E ao toca-la acontece um pulo de quase um século no ambiente: é aquele som de chamada nos aeroportos, trazendo quem meu pai quer falar.
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