Deuses de aço, aço de carne.
São verdadeiros lutadores. Eles lutam contra seus limites, contra os adversários, contra o relógio, contra a falta de apoio e de organização. Quando os vejo no pódium, com sorrisos que não cabem em seus rostos cansados, vejo a glória, a fama, o triunfo. Mas para os vencedores, as horas de dor foram finalmente recompensadas. Através de seus méritos deixaram para trás todas as dificuldades e atingiram o objetivo máximo de suas carreiras, vão para as Olimpíadas. Representarão o Pais que vivem, que amam e pelo qual morreriam se preciso fosse num último esforço para consagração máxima.
Mas outros ficaram no caminho para que esses heróis chegassem lá.
São homens e mulheres que, assim como os vencedores, lutaram. Seus corpos chegaram aos seus limites e não foi o suficiente. Eles sabiam que precisavam mais. Precisavam ser mais rápidos, mais fortes. Mas seus músculos se contraíram em cãibras , o peito queimava como que em chamas e eles buscavam mais. Sua visão se fechando numa escuridão sem fim. Sua vida de sofrimento, sua infância pobre passando diante de si em um slow-motion de explosão e de dor. Não teria recompensa. Sua história não será vista e ouvida na televisão. Não carregarão a bandeira brasileira diante de milhões de observadores. Não terão a chance de mostrar sua gana e sua garra. Não deixarão suas vidas sofridas. Sua dor terá apenas consolo entre os seus. Uma esposa ou uma mãe vai estar a lhe esperar na porta da casa humilde, e abraçados irá permitir que o gigante caído se ponha em prantos, que grite, que esbraveje, que questione e que finalmente, cansado e injustiçado, adormeça. Amanhã será outro dia, o anti-herói da carne de aço, voltará a ser garçom, pedreiro, vendedor, mecânico. Daqui a duas semanas as feridas estarão curadas, e então, à noite, enquanto nós voltamos para nossos lares, ele estará uma vez mais correndo, arremessando, saltando. E quando então, tarde da noite, cansado mas recompensado com o resultado obtido, vai chegar em casa mais uma vez assobiando o Hino da Vitória e contar como ele vai guardar a bandeira brasileira durante sua prova para só retira-la no pódium, na Olimpíada de 2004.
“- Como o Rubinho fez.” dirá “- Como o Rubinho fez...”
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