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Contos-->Feijão e Lágrimas -- 09/11/2000 - 23:08 (Silvio Freitas Teixeira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Seus passos eram pesados mas não arrastados.

Ele olha tudo em volta, o silêncio grita aos seus ouvidos depois de um dia inteiro dentro do inferno. Que podia fazer, era aquele o único trabalho que havia conseguido. Dizia para sua esposa que seria apenas até que encontrasse outro emprego, no entanto não podia se ausentar para procurar algo melhor sob risco de perder o único que tinha, e sem poder sair, resignava-se a sobreviver sob o som da britadeira.

As vezes parecia que não passava de um sonho ruim. Tantas e tantas vezes parecia real mas era um sonho. Agora gostaria que fosse um sonho, mas era real.
“- João !” Ele ouve uma voz chamar seu nome. Lembra de quando lhe chamavam com um sorriso estampado no rosto. Quando os amigos ainda enchiam a casa e juntos faziam planos para o futuro. Hoje ele entende melhor os significado da palavra amigo, tarde demais talvez.

Ele se vira e encontra os olhos de sua esposa.
“- Tem feijão na geladeira !” – disse a mulher com os olhos vermelhos de sono.
“- Pode ir dormir que eu me sirvo.” – Sentia mais por ela que por si mesmo. Nunca se importou com o próprio bem-estar mas sentia um nó na garganta em pensar nas dificuldades que ela passava. A responsabilidade era toda sua.
Ele que já experimentara uma vida de fartura, agora fechava as portas de uma despensa vazia.

“- 43 anos” Pensou, que número mágico era aquele que lhe fechava todas as portas. “Velho demais”, eles diziam, por Deus, velho aos 43 anos de idade !
Ele havia estudado, pouco talvez, mas não era um analfabeto. De que lhe adiantavam as letras agora onde apenas o braço forte manteria seu sustento ?
Ainda jovem, prestou serviço junto ao exercito quando foi chamado por sua pátria, agora essa mesma pátria, amada, pedia para que vivesse, em verdade sobrevivesse, com cento e cinqüenta reais por um mês de trabalhos forçados. “- Gasta-se mais com um presidiário do que com um trabalhador.” Mas ele não iria roubar, não iria matar; tinha um menino para quem tinha de servir de exemplo, de herói.

E no silêncio da cozinha, o herói anônimo de um único fã, sentou-se em um banquinho e começou a engolir vagarosamente seu jantar, um prato de feijão, mas hoje era tudo que teria, feijão e lágrimas.
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