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Contos-->Campanha Política -- 09/11/2000 - 23:09 (Silvio Freitas Teixeira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os dois candidatos a prefeito haviam se engalfinhado durante toda a campanha.
As pesquisas apontavam 40% para cada um dos candidatos, 18 % de indecisos e 2% de votos para o candidato do Partido Verde que andava pela cidade com um pote de cocô, pois sua plataforma era o tratamento dos esgotos que poluíam o único rio da cidade e exalava um cheiro terrível por entre os bueiros.
Eventualmente os dois grandes combatentes até colocavam em seus discursos uma ou outra proposta do que fariam, se eleitos, na prefeitura da cidade, mas só faziam isso quando esgotavam-se todas as acusações possíveis contra o seu oponente. Para isso valiam-se de qualquer artifício.
Jurandir era o candidato da situação. Tentava se eleger prefeito depois de dois mandatos como vereador. Jovem e audacioso acreditava sinceramente que os fins justificavam os meios. Durante a campanha, havia divulgado fotos do adversário nu, bêbado, jogado no chão, coberto de confetes e serpentina. Genésio, o adversário, líder da oposição, defendia-se dizendo que apesar de ser realmente a sua cara na fotografia, não poderia ser ele, visto que o restante do corpo era branco, e ele, negro como carvão, nada tinha a ver com aquela montagem grotesca. Os indecisos ficavam mais indecisos ainda com isso tudo.
A campanha eleitoral corria rapidamente e os votos nos bairros começavam a ser decididos de forma categórica. Haviam as zonas de Jurandir e as de Genésio, no entanto o local onde havia a maior indecisão no momento era a Vila do Cocão, lugar onde a população mais desfavorecida da cidade se concentrava. Ainda que a contragosto os candidatos aceitaram o convite para um debate em pleno Cocão. Eram muitos votos que poderiam acabar por mostrarem-se decisivos para a eleição de um ou de outro candidato.
Estratégias montadas, os marketeiros de ambos os lados insistiam que o povo queria alguém com quem se identificassem, precisavam mostrar o seu lado mais humilde, mais pobre. Pouco importava o que o adversário dissesse ou fizesse, deveriam ignorar completamente qualquer pergunta que o outro por ventura viesse a fazer e mostrar para aquele povaréo quão coitadinhos eles já foram antes de chegar com muito luta e suor até onde chegaram.
“- Amigos da Vila do Côco, eu sei muito bem o que vocês tem passado nas mãos desse continuismo anti-democrático que oprime e os obriga a concorrer por sub-empregos à margem da sociedade !” Disse o candidato da oposição ante uma multidão calada. Imediatamente um dos diversos assessores pulou ao ouvido do orador:
“- A lingua do povo candidato! Fale a lingua do povo que eles não estão entendendo nada.”
“- Gente, temos que dizer NÃO presse bando de inutil que pensa que a gente somos bicho pra ficar jogado e só sermos lembrado quando querem se elegê ! Eles querem deixar vocês mais pobres e mais miseráveis que nem fizeram nesse ultimos dez anos.”
Apesar do frisson que agora sim atingia o publico em meio aos aplausos e gritos de “É isso aí !” o assessor mais uma vez voltou ao ouvido do candidato:
“- Menos candidato, menos...”
“- O nobre candidato fala essas coisas, mas anda de carro pra cima e pra baixo desde quando era piá! “ Arguiu o candidato da situação que precisava fazer alguma coisa antes que o publico começasse a enveredar pro lado do inimigo, e continuou:
“- Nós eramos tão humildes que quando era criança tínhamos de acender uma latinha com alcool no banheiro pra quebrar a friagem.”
De repente murmúrios de “eu também faço isso”, “viu como ele é que nem nós” forçou uma resposta do oponente:
“- Pois quando eu era mandalete no empório de tecidos, eu levava sopa na garrafa térmica para almoçar!”
Novos apupos se seguiram, gritos de “Genésio” e “esse é do povo” deixavam Jurandir apreensivo, ele precisava contratacar:
“- Pois quando jovem nós só podíamos jogar futebol com um time de camisa e outro sem camisa !”
“- Como se fosse grande coisa, lá em casa nós esperávamos que todo mundo fosse no banheiro pra dar uma descarga só!”
Ohhh!! Essa havia sido forte, algumas pessoas passaram a olhar com aquele olhar de dó pro candidato; ”Puxa, isso nem nós precisamos fazer” “Coitado”
“- E nós, e nós, que além de juntar os pedacinhos do sabonete pra fazer uma bola só, tinhamos de consertar o chinelo havaiana com grampeador, e olha que meus cadernos eram encapados tudo com saco plástico de arroz tio joão.”
Uau, apesar de não serem tão fortes quanto as alegações do adversários, vieram de bando. A multidão delirava, aplaudiam, alguns sorriam, outros no entanto comentavam: ”Como será que eles conseguiram chegar tão longe?”
“- Pois fique sabendo nobre candidato que quando eu era pequeno, nós tinhamos de assoar o nariz com o dedo na pia pra economizar papel higiênico!”
Meleca ! O adversário havia resolvido apelar, ele não podia perder dessa maneira tão, tão... suja.
“- Eu não queria chegar nesse nível, até porque me traz uma grande tristeza lembrar de alguns fatos, mas quando criança papai comprava somente um chicle para nós, quatro filhos, e cada um mascava um pouco, sendo que começava pelo mais velho, e eu, como o mais moço sempre pegava o chicle já branquinho...”
O Assessor já tentara por duas vezes alertar o candidato que o assunto estava esgotado e que deveria se voltar as propostas de infra-estrutura da vila, mas o oponente resolvera implicar com ele:
“- Lá em casa, nobre almofadinha, além da gente só ter uma escova de dentes pra familia, nós escovava os dentes com sabão gaucho !”
Então Jurandir julgou que precisava dar a cartada final, para calar de vez o adversário e fazer com que todos tivessem a certeza de que ele fora o mais pobre e humilde entre os dois:
“- Pois bem candidato, eu relutei em dizer, mas na minha infância nós eramos tão pobres, mas tão pobre, mas TÃO pobres, que usávamos o papel higiênico de um lado e colocávamos para secar para poder usar do outro lado.”
Um silêncio quase constrangedor foi o companheiro das centenas de caras de nojo que os cidadãos ostentavam, mas os assessores sempre prontos puxaram os cabos eleitorais a cantar os Jingles da vitória de cada candidato e resolveram dar por encerrada a peleia ali mesmo.
A eleição transcorreu sem maiores incidentes, excetuando o assalto a joalheria onde os ladrões, pegos em flagrante, tiveram de ser soltos por conta da lei que proibe qualquer prisão 24 horas antes e depois da eleição. Genésio ganhou por uma diferença de apenas meio por cento. O curioso foi o que aconteceu nas urnas da Vila do Cocão onde o candidato do Partido Verde vencera com 83% dos votos válidos. A emissora local correra para lá e entrevistava ao vivo um dos moradores do Cocão do motivo daquela preferencia:
“- Ora, já que é pra dizer merda, a gente preferiu escolher alguém que entenda do assunto, que aqueles dois são porco demais, ora se são...”

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