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Contos-->O BERGANTIM -- 25/02/2004 - 13:59 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Aspergindo cadaverina, com um nebulizador, sobre o fogão, sofás e camas da casa do devedor, a seita maligna do pavão louco, por meio do seu capeta mor, objetivava matar o tolo e toda sua família”.
Eu vinha pensando nessas palavras lidas num livro bacana, emprestado lá da biblioteca pública, e achava que não haveria exagero, do seu autor, se ele estivesse falando sobre os loucos.
Já um tanto quando exaurido, pelo calor sufocante, que imperava em Tupinambica das Linhas, considerei que deveria sentar-me debaixo da árvore frondosa, do jardim quase seco, da praça central.
O movimento de pessoas que iam e vinham correndo atrás dos seus interesses, dava a impressão que ali não seria um lugar excelente pro descanso. Mas, como o caminhar naquela hora do dia seria pior, supus que atracar naquele porto restauraria as forças.
Sentado à sombra, devaneava na hipótese de que no sudeste, por causa do horário de verão, o resultado da Mega Sena saía antes, possibilitando aos mais espertos, lá do nordeste, onde o famigerado não vigorava, saberem de antemão, os números sorteados no sul, apostar neles e, ganhar os prêmios todos.
De repente, igual a um pirata alto, magro, com a perna direita de pau, achegou-se a mim o Gera 163. Você já o conhece. É dispensável repetir aqui sua historia. Mas o Gera, sacando do bolso da camisa o maço de cigarros, e sem nem ao menos me cumprimentar foi logo sentando e dizendo que: “Se houver a baixa dos juros, o dólar supervaloriza-se causando o aumento da inflação. E como o objetivo do governo é conte-la, meu amigo, pode tirar o seu cavalinho da chuva, que a situação vai mesmo ficar do jeito que sempre esteve”.
Dito isso, sem mais nem porque, levantou-se e saiu andando lentamente, com aquele seu olhar vago, perdido num lugar que ninguém sabia onde era.
Já me levantava para prosseguir na caminhada quando se sentou, ao meu lado, um senhor de aproximadamente setenta anos. Acomodado ele expectorou: “Eu tinha um cunhado que era tão azarado, mas tão azarado que até sua dentadura cariava. Porém foi um tempo“bão” aquele. Sinto muita saudade. Ele era conhecido como Ticão boca de porco. O senhor não conheceu? Foi imenso. Um verdadeiro pudim de pinga”.
Enquanto ele falava quatro jovens passaram à nossa frente alinhados. Um quinto vinha logo atrás, trazendo uma prancha de surfe. Mas no interior, onde não há mar, o que fariam eles com aquilo? Fui interrompido nas minhas considerações pelo vizinho velhinho que voltava à carga dizendo: “Aqui em Tupinambica das Linhas, as forças do escamoteado procuram limitar todos aqueles que divergem dos poderosos e mandões. E os tirânicos manipulam a opinião pública. Sabe como é?”
Bem, eu não queria polemizar, por isso disse que já ia indo lá pro boteco tomar um cafezinho. Pra ser gentil, convidei-o.
Para minha surpresa e decepção o cara aceitou. Durante o trajeto ele falava: “O coniTo lionégofaA do bar é nocor. A lhermu lede vada pro taristomo de nhãomica. O Zé, irmão do coniTo, touma o raca lá em São droPe”. Eu não estranhei o dialeto. Era um patoá, um linguajar, usado na década dos quarenta, por uma turminha de engraxates, duma cidade vizinha. Eles falavam antes as últimas sílabas das palavras. Pronunciavam os vocábulos de trás pra frente. Do fim pro começo. E o que o bom velhinho disse acima, traduzido ficava assim: “O Tonico Afagonélio do bar é corno. A mulher dele dava pro motorista de caminhão. O Zé, irmão do Tonico, matou o cara lá em São Pedro”.
No balcão, ao sorver o líquido precioso, com o qual, no passado, muita gente ficara rica, disse ao velhote que houve um tempo em que o Getúlio queimou milhares e milhares de sacas, a fim de manter os estoques do produto em consonância com a procura pelo mercado. Todos os grandes fazendeiros produziam o café e isso excedia a demanda desvalorizando a coisa.
O velhinho olhou-me com aqueles olhos arregalados de quem se lembrava, de repente, de algo há muito esquecido e, estupefato perguntou-me: “Mas como você sabe disso? Você é muito moço pra ter nascido naquele tempo”.
O velho, por ser analfabeto não concebia a existência dos livros e suas histórias. Poderia mistificar dizendo que “fora um espírito que reencarnara em mim durante algumas horas de alguns dias”, enganando-o. Mas fui sincero e disse: “Eu li isso lá na biblioteca. Tem até jornal do tempo em que o Getúlio era ainda um guri. Tudo está anotado lá”.
Na construção vizinha ao botequim, numa reforma ampla, geral e irrestrita, um marceneiro buscava, batendo furiosamente na cabeça dos pregos, a catarse das lembranças horrorosas.
Em seguida o vovô começou a meter o pau nos americanos. Sim porque os americanos são isso; e que americanos eram aquilo. Eu lhe respondi que os americanos não se limitavam às suas fronteiras. Eles se estendiam, e se espalhavam, até onde chegavam os bens culturais que produziam. E que se o Brasil quisesse mesmo ser o grande líder que sempre desejou ser, deveria também estimular seus artistas, escritores, cineastas, dramaturgos, pintores e suas criações.
Foi o que eu disse. E por não mais ter nada a dizer, e nem ele a comentar, despedimo-nos com um abraço fraterno. Convidei-o a visitar, oportunamente, minha casa, onde poderíamos tomar um outro bom e saboroso cafezinho.


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