Usina de Letras
Usina de Letras
132 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62186 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10351)

Erótico (13567)

Frases (50587)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6184)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Rua da Praia -- 09/11/2000 - 23:11 (Silvio Freitas Teixeira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Rua da Praia, de todas as praias.
Da rua que todos conhecem um pouco, a parte que interessa pra cada um.
Pergunto: - Onde começa ?
“- Na Dr. Flores! “ Diz um
“- Na Praça.” Remenda o outro
“- Que praça ? “ Questiono “- A lá de cima.” é a resposta.
Rua da Praia, rua cujo nome verdadeiro as vezes escapa dentro do mistério que é a Rua da Praia.
“- Porque Rua da Praia então ?”
Um senhor de idade, com terno escuro e um chapéu que provavelmente foram testemunhas do nascer da rua me diz:
“- Isso é porque o Rio Guaíba vinha até aqui, antes do aterro.”
Outros no entanto riem da explicação. Dizem que o velho está gagá, que só é bom jogando damas.
Caminho por ela e vejo o mundo, os extremos. Vejo o rico e o pobre caminhando lado a lado como se fossem amigos. O Policial que bate-papo com o menino de rua me chama a atenção, ambos riem juntos de algo, conversam esquecendo sua distância social, sua diferença de idade, partilhando do mesmo sol, da mesma sombra ao sol.
De súbito, um velho se atira a minha frente, tocando sua gaita de boca me assusta e abro um sorriso, não era um ataque e sim um pedido, mas minhas moedas se foram entre o aleijado estendido de forma espalhada no meio da rua e a mais pura representante brasileira que curiosamente amamentava em frente a loja de nome mais estrangeiro no mundo.
Caminho quase como num balé, sinto-me um pouco o Ronaldinho, driblando a multidão que passa apressada. Observo a curiosa “ôla” dos camelôs enquanto passam os fiscais.
Embaixo dos mais de trinta graus, um periquito gigante sofre e tropeça nos próprios pés enormes. As crianças o rodeiam como os índios dos velhos filmes de faroeste, mas o periquito, impassível em sua roupa de plástico, não é socorrido e, desequilibrando-se, vai ao chão para o delírio dos transeuntes. Não consegui me conter e juntei o meu riso ao deles também. Espero que ele não tenha se machucado; “ossos do ofício” eu penso enquanto sigo inexoravelmente, atravessando gritos que me atingem:
“- É dois, é dois, vai a dois o Digimon!”
“- Cortar cabelo moço ?” Logo eu que mantenho o corte escovinha. “- Levo o senhor até lá.”
“- É barato ! Tá na promoção !”
Pego um folheto que a moça me entrega, ela sorri como quem diz “Obrigado por não virar a cara pro outro lado, só estou fazendo meu trabalho.”
O cheiro do churrasquinho me atiça, me recuso a crer nas estórias sobre eles, mas não crio coragem de pedir um pra mim...Talvez, mesmo negando, eu tenha meus preconceitos.
A música de repente toma forma e reconheço os Bolivianos.
“- Nossa, cadê a flauta pan e a viola enluarada ? O teclado eletrônico, alimentado por um gerador de energia próprio, reproduz o som melodioso, mas tenho dúvida se são os mesmos bolivianos que já havia visto outras vezes, ou se são os mesmos que renderam-se ao avanço da tecnologia.
“- É 5 por 1 Real !” Grita o vendedor de paçoquinhas. Pergunto se posso levar só uma. “- Então é 25 centavos patrão, sacumé, senão não vale a pena.” Lembro que não tenho mais moedas, acabo levando as cinco.
“- É o cão Internauta.” Grita o outro vendedor e me questiono se ele sabe porque o cão à venda tem esse nome, ele me responde antes que eu precise perguntar.
“- É o cachorro criado pela Internet. Não solta pêlo nem pega pulga.” Já ouvi maravilhas sobre a Internet mas jamais havia creditado tal poder à ela.
Continuo minha caminhada atravessando nuvens de todo tipo de cheiros, nem todos agradáveis, que se alternam com a mesma facilidade dos meus passos.
Subitamente algo aconteceu, fui envolvido em um turbilhão de pessoas que falavam de Quintana e Paulo Coelho, que discutiam Lusíadas e Brás Cubas, fui envolvido por um mar de cultura e, como um náufrago literário, me deixei envolver em suas ondas.
Não sei quanto tempo eu andei, e por quais correntes culturais me deixei levar, mas como diria o poeta: “Tinha uma feira do livro no meio do caminho...”
Voltarei n’uma próxima vez, para desvendar os mistérios da Rua da Praia,
de todos os cheiros
de todos os gritos
de todas as pessoas
de todas as praias...

Nota do Autor: A Rua dos Andradas, conhecida como rua da Praia, inicia na continuação da Avenida Independência e termina na Avenida Presidente João Goulart, no centro da cidade de Porto Alegre.


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui