Sam, não fiquei satisfeita com o Guest Book, achei muito curto.
Queria falar mais, queria estar na sala agora conversando. Sou novata mesmo, não é truque pra ganhar atenção como já vi outros fazendo.
Claro que é uma boa forma de entrar num grupo já constituido, mas não foi esse meu intuito: queria mesmo conhecer pessoas, estar virtualmente perto
de pessoas, falar com a alma aberta, sem medos, sem restrições de idade, aparência, etc.
Quando comecei foi por brincadeira: entrei num chat, na UOL e fiquei olhando extasiada. Que loucura aquelas pessoas todas falando e falando
sem poderem sequer imaginar quem estava do outro lado. Podia ser um homem falando como mulher ou vice e versa podia ser um maluco ou uma doida
falando qualquer coisa não dava pra saber! Fiquei tonta com os pensamentos que passaram pela minha mente: o que era aquilo? que loucura?
Passado um tempo resolvi arriscar a primeira frase; nem me lembro mais que besteira eu falei. Alguem respondeu e fiquei feliz com isso. Vi uns desenhinhos aparecendo e perguntei o que eram; mais pessoas responderam. De repente, um flerte!
Um susto! Uma vontade de sumir: como iria responder? Corresponder? Resolvi fugir.
Comecei a desconversar me chamaram pra um reservado. Dei sorte, um moço simpático, amigo até hoje, carinhoso, que começou a me
deixar tranquila. O reservado cumpriu sua função.
Mais uma pergunta, mais um amigo, mais um que guardo até hoje no coração.
Mais um dia, mais um nick, mais uma sala: mais letrinhas pelo ar, endereços de html. Mais um susto: o primeiro friozinho na barriga virtual Virtual o friozinho ou a barriga? Nenhum dos dois, nem virtual o sentimento que começava. Nem virtuais as palavras que se falavam. Virtuais eram apenas as imagens que se formavam em meu
pensamento: loiro, ruivo moreno? Magro, alto, baixo? Feio, bonito? Legal?
Um monstro ou um médico? Como saber? E o nick? não dava mais pra mudar. O primeiro ICQ. A primeira foto Outras fotos, outros homens, outras mulheres: a primeira AMIGA!
Coisa linda! Mesmo signo, mesma idade, mesma comunicação, instantãnea. Reconhecimento imediato.
A sensação de que o mundo podia ser muito maior, de que podia abraçá-lo por inteiro. Ter todos os amigos. De repente, uma bofetada! Dentro de uma
sala xingamentos e brigas. Doeu com se fosse de
verdade. Corri. A primeira decepção.
A consciência de que não era tão virtual, que podia machucar tanto o amor quanto a bronca. A sensação de que o mundo ia virar de ponta cabeça, que nada mais era real e que tudo era verdadeiro. Como se apaixonar por uma imagem? Palavras na tela do computador? Como trocar um carinho
por algumas horas de lentidão devorando vorazmente as telas rolando, procurando uma
palavra, uma frase, um nome? Como aceitar que era possível? E a mente brigando com o coração A racionalidade contra o sentimento:
- Mas é tudo virtual - O que? virtual só as imagens e podem se tornar reais.
- Mas isso não é viver, isso não é legal.
- Por que não? Há sentimentos, há comunhão.
Mais amigas, mais amigos, mais flertes inconsequentes. Mais cochichos na boca da
orelha, mas aínda uma novata: tímida, quieta, olhando as palavrinhas rolando tela abaixo. Uma vontade imensa de falar e não sabendo o que, como
entrar num grupo tão carinhoso. Como fazer pra não ser rejeitada? Como saber se aquele grupo era mesmo tão legal? Só tentando. E assim cheguei a
ZAZ, na sala A, passeando, vendo, olhando decidindo. Virtualmente feliz, virtualmente acompanhada, virtualmente querida.
Que engraçado! Verdadeiramente feliz, verdadeiramente amada, verdadeiramente
querida.
Lí num de seus links algo assim como "uma pata seguida dos patinhos" E é assim que me vejo hoje: seguindo a pata mãe, correndo atrás dela pela
sala ou sendo a mãe, seguida das patinhas. E agora, quando de manhã acordo e conto pros meus filhos como foi a noite, como nos divertimos, como corremos uns atrás dos outros, como levamos
tombos e voltamos, choramingando. Quando sorrio sozinha lembrando de tudo que aconteceu, tenho então a impressão de que encontrei mais um
motivo pra ser feliz. Posso mandar milhões de virtuais beijos na boca com a certeza de que quem
os recebe se sente deliciosamente beijado.
Qual o significado de virtual?
Se te ocupei por muito tempo com meus pensamentos, me desculpe. Precisava falar com alguém: você me pareceu ideal.
Beijos com muito carinho, virtualmente real.
Manina de dia, Loukkinha de noite (mas não conta pra ninguem hein? *r*).
Uma tentativa fracassada de mudar de nick.
08/10/1998 |
