Em Paris, olhei para o Sena e vi todos os rostos
que um dia ali se espelharam. Vi Lamartine,
Victor Hugo, Musset, Napoleào, Josefina, os Luíses, seus infantes e amantes, o nosso Dom Pedro II. O rio ia passando, passando. Espremido
entre paredes de concreto, quando antes tinha
a liberdade de lamber os pés das lavadeiras,
os tufos de plantas, as raízes das árvores.
Pobre rio estreitado na camisa de força, canalizado entre muralhas de concreto armado.
Pobre rio tão cheio de recordações e abstrações,
e também suicídios, assassinatos, afogamentos.
Pobre rio, escravizado pelo modernismo, empregado
pelo turismo.
Pobre rio, que faz a riqueza de Paris, de um
país.
Imagem do meu rosto ficará nas suas águas. Meus pensamentos ficarão nas suas ondas cortadas pelos
bateaux brancos e preguiçosos. Até que alguém, como eu, volte a lembrar a todos, os que estão na glória, como aqueles, ou no anonimato, como eu.
Nereida |