Usina de Letras
Usina de Letras
75 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62138 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10447)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10332)

Erótico (13566)

Frases (50548)

Humor (20019)

Infantil (5415)

Infanto Juvenil (4749)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140778)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6172)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->A HISTÓRIA DE ANDRÉIA - PRIMEIRA PARTE -- 29/02/2004 - 22:28 (adelay bonolo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A HISTÓRIA DE ANDRÉIA


Li, dia desses(1), na crônica policial publicada nos jornais de Brasília, o caso de uma moça que vinha sendo estuprada, desde os sete anos de idade, pelo cunhado, pastor evangélico. A notícia causou-me indignação menos pela torpeza do ato que pela profissão de fé do criminoso. Lembrou-me imediatamente a prostituta Andréia, pobre cearense de Senador Pompeu, que veio para Brasília dez anos atrás, para acabar se prostituindo nas ruas da cidade.

Por que será que uma menina, certamente de boa família, pobre mas honrada, deixaria sua terra natal, onde poderia ter sido respeitada, para vir morar longe de casa e distante dos pais e dos irmãos, atingindo, em muito pouco tempo, o mais baixo grau da prostituição?

Muitas e diversas seriam as causas, sendo a principal delas a econômica, que força as pessoas a se degradarem, perdendo a dignidade, a esperança e o amor próprio.

Mas não cabe aqui aprofundar a discussão desse assunto, até porque me falta conhecimento suficiente e competência para tanto. Limitar-me-ei a divagar um pouco sobre essa profissão, mais velha que o próprio mundo. O leitor me perdoará se não lhe trago novidade!

É inegável a queda que os homens têm para as prostitutas, sobre os quais exercem fascínio incontestável, desde tempos remotos. Dizem que é a mais antiga das profissões. Nem sei se poderia chamá-la de profissão. Na França elas têm carteirinha, pagam impostos e se aposentam. A Bíblia está repleta de lances em que essas “senhoras” figuram como personagens de destaque. A História registra a atuação de algumas prostitutas famosas, atribuindo-se-lhes fundamental importância no curso dos acontecimentos. As gueixas no Japão são conhecidíssimas em todo o mundo. Cortesãs reinavam nas cortes européias, onde sobressaiu Madame Pompadour, até hoje cantada em prosa e verso. A sociedade de todos os tempos consentiu na coexistência da concubina, especialmente nas famílias reais. A Ópera, o Teatro, a Literatura em geral sempre reservaram lugar relevante para essas mulheres.

Cá entre nós, não faz muito tempo, os figurões da política e do dinheiro, os capitães da indústria e do mato, todos tinham sua amante, teúda e manteúda, como se dizia, sem muita oposição da comunidade, numa situação considerada normal pela maioria da população, até mesmo pelas próprias esposas.

Mas não é apenas nos homens que tal profissão exerce encantamento. As mulheres, lá no íntimo, escondem uma ponta de inveja da liberdade que as prostitutas têm em relação aos homens e aos costumes, sobretudo no campo do sexo, o que lhes dá incrível superioridade em relação àqueles. Muitas atrizes do Teatro e da Lírica parecem demonstrar satisfação em atuar no papel de prostituta. As novelas estão recheadas deles, em todos os tempos e cenários. Já vi e ouvi manifestações de algumas dessas atrizes a respeito do assunto. Agora mesmo, a atriz Claudia Ohana, em entrevista ao Correio Braziliense, edição de 12.3.2000, no caderno “Correio da TV”, página 4, sob o título “A hora da bela Antônia”, lê-se o seguinte texto inserido sob fotografia da personagem: “Sempre tive vontade de interpretar uma prostituta”. As mulheres que não são atrizes não divulgam sua opinião ou predileção, por motivos óbvios. Mas de tempos para cá, muitas esposas, bem casadas até, costumam ir a motéis com seus maridos, sob pretexto de curtir uma situação “diferente”. Não seria isso uma espécie de manifestação velada daquele encantamento?

A importância que as prostitutas tiveram na formação sexual dos adolescentes de uma época mais antiga é inegável. Era tradição entre nós o irmão mais velho, o tio, o primo ou o próprio pai levar à zona o adolescente para, com a ajuda de uma prostituta conhecida, propiciar-lhe iniciação nos mistérios do sexo. E a coisa era feita com todo o cuidado possível, inclusive para não chocar o jovem. Doenças venéreas eram ali rigorosamente controladas por interesse das proprietárias das casas. Ai daquela que escondesse o fato de ser portadora de uma doença da espécie! Em cada cidade, povoado ou vilarejo havia uma “zona” ou bordel, que se esmerava em oferecer “divertimentos” especiais, shows etc. para atrair clientes de outras localidades. Nas grandes cidades inúmeras eram as casas especializadas nesse ofício, que geralmente recebiam o nome francês de “rendez-vous”, cujo significado é encontro.

As prostitutas sempre foram extremamente liberais na prática do sexo, coisa importante, importantíssima, sob o ponto de vista da clientela.

A esposa, a chamada “mulher da gente”, como se dizia, portava-se na cama muito mais recatada e comedidamente, não indo além da tradicional posição bíblica. Quando uma esposa passava desses limites, o marido a olhava de soslaio e entrava a desconfiar: quem lho teria ensinado?, seria a pergunta lógica. O próprio marido? Jamais. É preceito bíblico: “ ...para que ela não empregue contra ti a malícia que lhe houveres ensinado” (Eclesiástico 9,1).

Por essas e outras, os homens, casados ou solteiros, freqüentavam os prostíbulos com muita assiduidade. É claro que amantes sempre existiram e sabidamente sempre foram mais liberais que as esposas. Mas antigamente o acesso às mulheres, mesmo às do tipo “amantes”, era bem mais difícil, a aproximação era muito dificultada, até pelo puritanismo da época, sendo considerado por muitos coisa inatingível.

Obviamente, havia mulheres, casadas ou solteiras, que transavam livremente, conhecidas de todos, especialmente nas cidades pequenas, e adquiriam fama de má reputação. A esmagadora maioria, porém, era honesta ou não tinha ainda encontrado quem lhe quebrasse tal barreira! A prostituta, pois, facilitava o encontro.

Hoje, parece brincadeira! A garotada, em pouco tempo de existência, já transou mais que os homens de quem estou falando, considerando toda a vida deles. A liberalidade, às vezes confundida com libertinagem, grassou por toda a parte, indo às fazendas, campos e roças mais longínquos.

Naquela época, namorada não transava com o namorado. Só depois do casamento, diziam.

A meninada, pois, valia-se das melancias, bananeiras, galinhas, vacas e outros animais. Essa iniciação pecaminosa se justificava por absoluta exigência da natureza humana. De tal prática, difundida no mundo inteiro, contam-se inúmeras anedotas.

A esse propósito, li, no Correio Braziliense, trecho de entrevista concedida há anos pelo ilustre pensador Gilberto Freire, autor de “Casa Grande & Senzala”, ao redator-chefe daquele jornal, Ricardo Noblat, publicada pela revista Playboy. Às folhas 5 do Caderno Dois, edição de 12.3.2000, lê-se o seguinte: “ ...além dessa masturbação na bananeira, fui iniciado no uso de uma vaca. Experimentei o contato pecaminoso com uma vaca!”

Por aí se vê que o uso era praticamente generalizado.

Hoje, o “zonão” e o “rendez-vous” tradicionais não existem mais, com raras exceções. A profissão, porém, continua aí firme e forte, cada dia mais e mais profissionais aderindo ao “métier”, apesar da AIDS. O que mudou foi a forma de atuação: as mais sofisticadas exercem sua profissão nas boates, hotéis, bares, nos anúncios dos jornais para atendimento em domicílio, na Internet. As mais humildes continuam nas ruas, esquinas, praças e estradas, geralmente em locais pouco iluminados perto de hotéis e motéis.

A clientela também mudou substancialmente. Antigamente eram os jovens. Hoje são os mais idosos, principalmente casados. Aí está o episódio daquele famoso ator inglês Hughes Grant, marido de uma das mulheres mais lindas do mundo; não é que o cara foi pego com a boca na botija com uma dessas profissionais dentro de um táxi nos Estados Unidos! A conseqüência disso foi que, além do escândalo ter-se espalhado para os quatro cantos do mundo, a parceira ficou mais famosa que ele.

— Mas para que tanta lengalenga — perguntará o leitor — por que tantos prolegômenos? Que me interessa a história da prostituição? Quero saber o que houve com a Andréia.

***

Seu nome verdadeiro era Vanderviges, filha de Vanderlei com Edviges, nome bem ao gosto dos nordestinos. Morava em Senador Pompeu, cidade importante do Estado do Ceará, numa chácara afastada do centro, vivendo com os pais e mais sete irmãos, todos menores, inclusive ela.

Sua mãe abandonou o marido e veio morar em Brasília, deixando-a no Ceará cuidando do pai e dos irmãos.

Chegando aqui, juntou-se a um sargento do exército, que lhe montou casa nos arredores do Distrito Federal, chamado de Entorno.

Enquanto isso, Andréia fazia às vezes de mãe para todos os outros irmãos e tocava a casa, até que seu pai arranjou nova companheira, por sinal muito dedicada, deixando-a liberada da maior parte dos afazeres domésticos. Com isso, ela pôde cursar a escola, terminando, com sucesso, o 1º grau.

Passados aproximadamente cinco anos, sua mãe deu à luz um filho do sargento. Como era franzina e doente, mandou chamar Vande (era assim que todos a chamavam lá no Ceará) para ajudá-la a cuidar da criança.

Nessa altura, já tinha seus 14 anos e se tornara uma bela moça, de pele bem clara, pernas grossas, robustas e roliças, seios pequenos mas aprumados, cintura muito fina, cabelos aloirados compridos, olhos meio azulados e lábios nem finos nem grossos. Usava roupas apertadas, muito curtas, que deixavam à mostra a popa da bunda, saliente e arrebitada. Pelos decotes, generosos, podiam se ver os bicos dos seios, rosadinhos.

O sargento, homem rude, sem escrúpulos e violento, tinha fama de brigão e passou a dar em cima da moça, sempre que sua mulher não estava por perto. Aproveitava quando a enteada estava lavando a louça da cozinha, chegava por trás e a abraçava com força, roçando-lhe a genitália no seu traseiro.

— Não grita, senão eu te bato — sussurrava ele aos ouvidos da moça, que, apavorada e com medo de apanhar, consentia naqueles carinhos forçados. E assim ficava molestando-a até ouvir barulho de chinelos da mulher andando pela casa.

Essas carícias passaram a ser amiudadas, freqüentes, quase que diariamente, evoluindo para todo tipo de bolinação. Cada dia ele ousava mais, tocando-lhe nos seios, na barriga, nas coxas, afagando-a na vagina, com certa violência, que chegava a machucá-la.

— Se contar para tua mãe eu te mato — dizia ele baixinho, ameaçador, enquanto continuava a incomodá-la.

***

Num certo dia, sua mãe teve que ser levada ao hospital, devendo permanecer por lá uma semana, mais ou menos. Era a oportunidade que o safado esperava: iria satisfazer-se com Vande, sem ninguém por perto. Só de pensar nisso, e ela tinha razões de sobra para tanto, tremia de medo; mas o que podia fazer? Ir embora? Tinha que cuidar do neném, que afinal era seu meio irmão.

O berço da criança ficava no quarto do casal e Andréia, num quartinho, pequeno, ao fundo da casa, só para ela. Nesta primeira noite, sem a mãe em casa, ela foi dormir mais cedo, rezando para que o neném não acordasse de modo a não ter que ir ao quarto onde certamente o sargento a estaria esperando.

Não precisou nada disso. Tão logo entrou no próprio quarto, ele veio atrás, forçando a entrada. Bem que ela tentou fechar a porta, mas a fechadura tinha sido propositadamente quebrada pelo sargento durante o dia sem que ela visse. De nada adiantou também segurá-la por dentro, pois o homem era infinitamente mais forte que ela.

— Não grite, não faça nenhum barulho para acordar a criança nem os vizinhos — disse ele — Senão você já sabe!

Com carinho inesperado, pegou-a pelo braço e a conduziu à cama, tirando-lhe vagarosamente todas as roupas, enquanto ela tremia como se estivesse com febre.

Até aquele dia, a ousadia do sargento não chegara a tanto. Nessa noite, porém, não havia nada que o impedisse de ir avante.

E estuprou a moça a noite toda, de todas as maneiras, sem que ela pudesse gritar ou dizer qualquer coisa. De madrugada, dia já clareando, deixou-a só e foi dormir no seu quarto.

— Olha o que eu te falei: bico calado! — disse ele — Hoje à noite eu venho de novo!

O neném colaborou com o sargento: não chorou nenhuma vez. Andréia, ao contrário, chorou muito e de tanto chorar, num misto de raiva, ódio e vergonha, adormeceu, acordando depois da hora de servir a mamadeira à criança.

Passou o resto do dia soluçando, envergonhada. Toda vez que seu olhar cruzava com o do padrasto, sentia um latejar angustiante no peito, uma dor pungente, como se fosse estourar.

Nessa e nas outras noites seguintes, todas em que sua mãe esteve no hospital, o sargento dormiu no quarto dela, violentando-a até o despontar do dia.

Sua mãe retornou para casa, ainda fraca, não podendo movimentar-se muito. Além do mais, os médicos lhe haviam receitado tranqüilizantes, de forma que dormia a noite toda, sem acordar.

Essa situação era bastante favorável ao sargento, de que se aproveitava para saciar-se na cama da enteada, sem nenhuma possibilidade de surpresas e perigos.

A mãe notou algo diferente na filha, mas não conseguiu obter nenhuma resposta, nem era esperta o suficiente para desconfiar do que se tratava.

Certo dia, Andréia tomou coragem e foi à delegacia mais próxima. Deveria ter ido procurar a Delegacia da Mulher, mas se dirigiu para uma comum, em que a maioria dos policiais ali lotada era de amigos do sargento, desde muito tempo. O detetive Nivaldo, que a atendeu, colheu seu depoimento e despachou-a dizendo que iria tomar todas as providências cabíveis, que poderia ficar descansada.

À noite, tão logo a patroa dormira, o sargento dirigiu-se ao quarto dela, como do costume, e jogou-lhe na cara o documento que o detetive Nivaldo havia preenchido na presença dela e o entregara a ele, à tarde, no quartel, sem tomar nenhuma providência.

— Quer bancar a durona, hein! Olha aí a sua denúncia. Todos os detetives e o delegado daquela e de outras DP’s são meus amigos.

Ela reconheceu a autenticidade do papel. O sargento tomou-lhe o documento das mãos e o rasgou em diversos pedaços; depois, tirando o cinturão da farda, começou a surrá-la com toda a violência nas pernas, coxas, costas, nádegas, por todo o corpo, dizendo — Não diga palavra, sua vagabunda, se não eu te arrebento! Juro que te mato! — e continuava a bater-lhe, impiedosamente.

— Se voltar lá ou a qualquer outra delegacia, sabe o que acontece? Eu te ofereço a todos eles, pelada, numa bandeja. E será estuprada por toda a tropa, entendeu?

Soluçando, assentiu com a cabeça, implorando baixinho que não mais lhe batesse.

A surra e a ameaça valeram, pois Andréia nunca mais pensou em dar parte dele, nem contar para sua mãe. Agüentou calada todas as sessões de estupro e violência que o sargento lhe impingiu desde a primeira noite, não podendo fugir ao martírio, pois era menor.

Com essa facilidade toda, o sargento relaxou nos cuidados em manter as aparências, no esconder de sua mulher as relações que há muito tempo vinha mantendo com sua filha.

Numa noite, a mãe pegou os dois na cama. Fez escândalo, acordando a vizinhança. O sargento, nessa hora, acovardou-se, pegou um casaco e saiu de casa.

Tentou explicar para sua mãe o que vinha acontecendo:

— Mãe, não é o que está pensando! O canalha do seu marido vem me violentando contra a minha vontade, desde aquele dia em que a senhora foi para o hospital.

— Nunca pensei que fosse capaz de fazer isso comigo, sua cadela vagabunda! Amanhã mesmo, bem cedo, pega as suas trouxas e se manda. Pra mim acabou, você morreu!

— Mas, mãinha!

— Se manda, cachorra!


Continua...


(1) Num dia de março/2000
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui