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Contos-->O Mentiroso -- 09/11/2000 - 23:22 (Silvio Freitas Teixeira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Vez por outra quando nos reunimos entre amigos para o churrasquinho de Domingo, seguido do famoso carteado, surge uma ou outra mentira. Geralmente qualquer coisa boba e quase sempre é rapidamente desmascarada. O homem tem uma necessidade latente de mentir. Os homens bons mentem pouco e suas mentiras jamais prejudicam alguém, os maus não estão nem ai com isso, mas todos mentem. Há os mentirosos épicos como o Barão de Munchaussen ou nosso querido Pantaleão, esse então inquestionável dado a conivência de sua amada Terta, que jamais o deixara mentir sozinho. Porém sempre que a mentira e os mentirosos vem à tona lembramos do Reis. Ah o Reis, esse sim era um mentiroso qualificado. Mentia e não ficava vermelho. Tudo que dizíamos ele já havia feito mais e melhor. Obviamente depois de algum tempo divertíamos com suas mentiras escabrosas, no entanto ele sempre mantivera sua postura séria e para cada cascata contada, novas testemunhas escolhidas com o cuidado adequado para que jamais tivéssemos como confirmar a suposta veracidade dos fatos. Se dizíamos que éramos bons jogadores de sinuca ele afirmava que participara da equipe estadual mirim, mas que agora estava meio enferrujado. Fico imaginando moleques de 8 a 10 anos escalando a mesa para tentar enchergar o que havia em cima dela. Certa vez comentávamos que durante as festas de fim de ano chegávamos a ficar 48 horas acordados diretos.
“- Pois no tempo que servi no exército nós tínhamos que ficar tanto tempo acordado que uma vez dormi enquanto estava de guarda mas ninguém percebeu pois eu tinha de fazer a ronda e como já sabia o caminho de cor de tanto caminhar aquele trecho, eu dormia quando começava a caminhar e ia só no embalo, acordava na meia-volta e dormia de novo...” Garantiu nossa folclórica figura
O Reis já tinha trabalhado em tudo quanto é tipo de serviço, tinha experiência em qualquer área, 2 anos como ascensorista, 5 anos na Carris, 4 anos de Siemens, 1 ano como mecânico, 1 ano consertando televisão, teve uma lancheria e uma video-locadora, fora o tempo que serviu ao exercito, isso tudo no alto de seus 26 anos, por certo bem-vividos.
Quando questionado sobre com que idade ele começara a trabalhar para ter feito tanta coisa ele vinha sempre com a mesma estória:
“- Eu me criei na roça, não sou bundinha da cidade como vocês, com 3 anos de idade eu já tinha uma enxadinha pr’eu ajudar meu pai no roçado.”
Podia rir a vontade, ele não ligava. Certa vez o Marcelão meteu o dedo na cara dele:
“- Reis tu é muito mentiroso !”
Não adiantava, ele não dava bola.
“- Não quer acreditar, não acredita, não tô pedindo pra ninguém acreditar, mas que foi verdade, foi, é só perguntar pra minha tia Zenaide que viu tudo.”
“- Tua tia Zenaide não morreu ?”
Ops, as vezes até os mestres se confundem, mas o Reis nem pestanejou, serviu mais um café e disse:
“- Além de pobre é surdo ainda, eu disse tia Zila, a tia Zenaide claro que já morreu.”
Ah bom, estava explicado. Aliás matar familiares era com ele mesmo, cada membro da família bastante extensa havia morrido de uma forma diferente, de forma que ele conhecia o sofrimento de todas as doenças.
Engraçado que no fundo o Reis era um cara culto pois para sustentar suas falácias ele precisava estudar diversos assuntos para soltar o verbo na hora certa.
Não houvera quem não tentasse aprontar armadilhas para surpreende-lo, tudo em vão. Se você já tinha corrido de Kart 5 vezes ele já correra 10, mas se o outro remendasse dizendo que correu 15 vezes ele se saia bem também:
“- Corri 10 em Tarumã, porque em indoor eu nem conto...”
Num impeto de furor o Marcelão gritou:
“- Eu já dei a bunda 2 vezes Reis e tu quantas vezes deu ?”
Ledo engano, além de ficar com fama de veado, o Marcelão sequer fez o Reis piscar.
“- Eu nenhuma, mas o meu irmão não pode nem andar de bicicleta.”
Não dava pra competir, se era bom ele já havia feito melhor, se era ruim, a família pagava o pato.
O trabalho acabou por nos separar e por muitos anos fiquei sem ver, e sem sentir saudades, o Reis. Então certo dia um amigo comum disse que o Reis havia sofrido um acidente, que havia explodido um bujão de gás quando ele estava tentando trocar o velho. Disse que havia se queimado muito mas que não morrera, os bombeiros retiraram o seu corpo ainda em chamas da casa a tempo de evitar a tragédia maior. Contou-me ainda que quando fora visita-lo no hospital ouvira da própria boca do acidentado:
“- Não foi o bujão, o problema é que eu havia comido uma feijoada com repolho e rabanete no almoço, e alguém acendeu um cigarro bem atrás onde eu estava...”
Mas isso eu já acho que é mentira.
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