Conheci Diana dentro do cinema, na matinê das duas horas. As luzes tinham se apagado, mas era possível divisar as pessoas entrando na sala. Foi aí que vi a figurinha esbelta, cabelinho curto, o nariz meio empinado. E foi aí que comecei a gostar da moça. Diana, um nome badalado na época, por causa da música de Neil Sedaka, daiana. Agora, o problema era este: como se aproximar da gata, como fazer com que ela me notasse e até (se os deuses quisessem) se interessasse por mim? Eu era tímido, nunca teria coragem de abordar uma menina tão bonita. O máximo que consegui, depois de uns tempos, foi conversar com o irmãozinho dela, dar-lhe meia dúzia de bolinhas de gude, para mostrar como era um cara legal. Porém, o que aconteceu depois veio tornar inviável qualquer oportunidade de aproximação.
Uma tarde, estava com meu irmão na sacada do casarão onde morávamos, olhando chateados o mar num daqueles dias de vazante. O irmão sugeriu: vamos fazer um concurso de cuspe? Era uma brincadeira habitual na turma. Seria vencedor quem conseguisse reunir na boca o maior volume de saliva. Após alguns minutos de preparação, iniciei o jogo, impulsionando lá de cima uma quantidade enorme. O casarão situava-se numa esquina. Levada pela brisa agradável, a matéria salivar foi conduzida lentamente, num vóo gracioso, em direção à calçada. Repentinamente, virando a esquina, surge um rosto balofo, com bigodes grossos e óculos de aros escuros. Comecei a fazer sinais desesperados, como se, por controle remoto, pudesse desviar o volume de saliva do alvo inesperado. Não deu outra: plafff! O líquido chocou-se com o vidro dos óculos, escorreu para o bigode.
O homem era novo na cidade. Era baixo, de barriga proeminente. Dizem que os baixinhos são bravos, esse era duas vezes mais. Não vou mencionar a confusão que se deu, com interferência da vizinhança e quem sabe até do padre. Para mim, apenas uma coisa importava: o ho-mem era o pai de Diana.
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