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cronicas-->Perdido na Metrópole (20) A Faxina! -- 10/06/2003 - 15:09 (Silvio Alvarez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Perdido na Metrópole - Silvio Alvarez
Ilustração: Bruno César

A Mafalda, minha geladeira, está deprimida desde que tomou conhecimento do lançamento da geração multimídia da sua espécie. Geladeira Multimídia?!? A novidade que acabou de chegar aos Estados Unidos, tem televisão, rádio, recebe e envia e-mails, tira fotos, tem càmera embutida e pode ser usada como agenda. A princípio minha companheira manteve a frieza, depois perdeu as estribeiras e ficou furiosa. Agora está em crise existencial.

Devo admitir que também tenho culpa no cartório. Não fiz o degelo prometido. O Iceberg continua intacto. Na tentativa de agradá-la dei fim na lata de azeite que não era para estar lá. O problema é que o saquinho do lixo, aqueles de supermercado, que todo mundo usa, vazou e untou todo o piso da minha cozinha-sala. Conforme fui passeando pela casa a substància oleosa melecou todo o apartamento. Estou até hoje treinando patinação no azeite. Vou para as Olimpíadas!

Alguém mencionou que não tenho falado muito ultimamente dos causos nas ruas da metrópole, como antes. Estou em meu momento caseiro!
Nesta hibernação kitchenéttica (lindo nome) atual tenho aproveitado para colocar meu lar em ordem.

Devo alertá-los!

A crónica abaixo é desaconselhável a donas de casas zelosas e tarimbadas, maníacos por limpeza, gestantes e pessoas de bom senso em geral. Ou seja...

Resolvi lavar a louça depois de quinze dias. Pronto, agora já foi. Contei! Vou entrar para o Guiness Book! Ficou neste longo período empilhada na pia. Todos os meus dois pratos, dois copos, um garfo, uma faca, uma colher, uma fruteira e a minha panela que só uso para macarrão instantàneo.

Peço a compreensão de todos. É a primeira vez que moro sozinho. Não tenho aptidão e paciência para afazeres domésticos.

Todas as vezes que tomava coragem para lavá-la recebia uma descarga elétrica de má vontade proveniente do neurónio nº 1 que juntamente com o nº 2 compõe meu cérebro.

O que utilizei para colocar a comida durante este tempo? Usei tudo o que dispunha: forma para bolo, a fruteira e por fim o prato do Epaminondas, meu forno microondas.

Devo esclarecer que sou um solteirão acostumado a ter tudo à mão desde criança. Mais dia ou menos dia teria de me virar. Chegou o momento!

Não mentirei. Pensei seriamente em jogar a louça fora e comprar tudo novo. Não o fiz! Seria demais.

Tem o lado bom desta estória. Contribuí para o avanço da ciência sem querer. Ao retirar os pratos e talheres da pia, notei, próximo ao ralo, um macarrão instantàneo vivo! Ele estava se mexendo e abanando o rabinho para mim feliz da vida! Brincadeirinha. Ilusão de ótica.

Coloquei roupa de briga e mãos a obra. Precisei de palha de aço e um litro de detergente maçã. Queria saber o por que de detergente maçã. Será que alguém bebe este troço? Lavar a panela exclusiva para a gororoba preferida foi o mais difícil. Copos altos então, não usarei mais, impossível limpar o fundo. Com o andamento do processo peguei o gosto pela coisa e fui em frente. Não conseguia parar mais. Lavei os azulejos, a torneira, a vassoura, a maçaneta da porta e até a lata de lixo que estava um lixo.

Vocês podem me explicar por que temos de esperar a louça secar para guardá-la? Aguardo e-mails. Não perdi tempo. Guardei tudo molhado mesmo.

Peguei o ritmo, aumentei o volume do Adilsom, meu rádio, terminei de pintar minha kitchenette de amarelo canário, dei um trato geral no banheiro, varri até embaixo da cama! Por favor, e-mails com dicas de como varrer sob este objeto utilizado geralmente, mas não exclusivamente, para dormir, sem deslocar a coluna, serão de grande valia. Tirar o móvel de lugar não vale. Não tem espaço. Vocês pensam que moro em um duplex? Lá em casa posso dar apenas dois passos para cada lado, se der três caio da janela. E são seis andares.

Pintando as paredes e o teto, senti na pele o que deve ter sofrido o mestre Michelangelo. Como será que este homem pintou o forro da Capela Cistina sem cair daquela altura toda? Voltemos, porém, ao projeto de artista plástico metido a decorador que sou. Aboletado sobre um banquinho alto, tendo o pincel à mão direita, aquela da tendinite e a lata de tinta a tiracolo, lembrei que tenho vertigem. E para descer?

Tenho a nítida impressão que após a publicação desta crónica morrerei solteiro. Alguém vai querer um marido vagabundo e atrapalhado a este ponto? Minha mãe diz que sou bonitinho.

Sou sedentário assumido. Frequentei academias de ginástica por onze anos. Até perceber que levantar garrafinha de Gatorade não era suficiente para ganhar massa muscular. Acreditava que olhar a galera se exercitar me faria ficar forte por osmose. Não deu certo.

Depois da árdua e estafante tarefa apreciei por horas o resultado.

Quem nunca deixou um prato sequer por lavar alguns dias que atire a primeira pedra. Calma! Uma por vez!

Silvio Alvarez é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista. silvioalvarez@terra.com.br
Ilustração - Bruno César: brunoartes@uol.com.br
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