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Contos-->Cena um, ato único -- 07/03/2004 - 15:48 (Paulo Eduardo Gonçalves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tudo teve início num fim de tarde comum, desses em que se senta na praça com um amigo ou namorada e discute-se sobre a vida e o rumo das coisas, sobre o passado e um eventual futuro que também há de passar. O amigo nessa ocasião era o Franz, uma pessoa legal, um tanto quanto pragmática, que nunca quis ser minha namorada. A outra parte no diálogo era eu.
Não sei bem como é que uma conversa metafísica sobre o outro lado da água do chafariz e o rumo dos reflexos da luz dos postes tomou a direção que tomou, mas o fato é que a uma certa altura ouvi o espírito pragmático do Franz utilizar seu aparelho fonador para me dizer:
-- Alan, você precisa tomar um rumo na vida! Arranjar um emprego, se empenhar nos estudos, sair dessa cidade!
-- Eu já pensei nisso... Só que eu não consigo! Sou preguiçoso... Não cumpro horários... Não acho graça em nada! Dinheiro pra quê? Fora isso, me sinto deslocado, e sei que estando aqui, em Taiwan, ou em Bangladesh vai ser a mesma coisa! Vou morrer do mesmo jeito. E além de tudo, meus impulsos são tão... destrutivos!
-- Bom, você que sabe. Eu, da minha parte, já planejei tudo. Termino esse curso e vou fazer mestrado fora. Só acho uma pena ver uma pessoa com o seu potencial atolada nesse fim de mundo.
Depois disso, fomos embora.
Como sempre, fui pra casa a pé, meditando debaixo da chuva que caía. As palavras do Franz não me saíam da cabeça, então parei sob uma marquise perto da Prefeitura, para escrever – faço isso quando fico angustiado. A chuva que caía, o rumo das palavras e a visão da prefeitura foram o que me inspirou, eu acho. Fui para casa e escrevi essa carta:
“Ilustríssimo Senhor Prefeito
Sou um jovem universitário, sem rumo na vida, sem grandes aspirações, sem grandes talentos. Não possuo habilitação técnica específica em área alguma, sendo, portanto considerado inapto para exercer atividade rentosa no mercado de trabalho da sociedade atual. A falta de disciplina que me é característica configura-se como grande empecilho no desempenho de funções ligadas profissões liberais, e o estado, ou o aparato do estado destinado a providenciar àqueles com perfil semelhante ao meu um meio de subsistência me expele em alguns meses. Sei porque tentei.
Os parcos dons naturais de que disponho resumem-se a uma discutível predisposição à doideira, relativa coragem ante situações absurdas e algum tipo de sexto sentido que é facilmente confundido com “senso crítico”. Mais do que qualquer coisa, estes estranhos talentos me garantem a condição de pária, numa sociedade onde a mediocridade e a obtusidade intelectual são tidas como pressupostos para uma vida feliz. Sei que como eu existem vários outros jovens em situação semelhante, os quais poderiam tornar-se um verdadeiro incômodo, caso agrupados e unidos em torno de um objetivo comum. Até onde sei, a única coisa em comum entre tal tipo de criaturas é a insatisfação. A idéia de direcionar tal insatisfação para alvos específicos, com o propósito único de incomodar me diverte. A quem o incômodo atinja não interessa, muito embora seja mais divertido incomodar alguns, e mais fácil incomodar outros.
Desagrada-me descumprir as normas, mas em uma vida tediosa como a minha, há um ponto em que se escolhe entre isso ou o suicídio. Ficaria muito contente em ser um ser humano como estes que vejo pela rua, felizes e plenos em seus empregos, suas famílias, suas vidas. Mas algo me impele no caminho inverso. Sou jovem e sem futuro.


Alan Alda Silva
Jovem no caminho do inferno”

Postei-a no dia seguinte.
A história da carta foi assunto durante alguns dias, um bom motivo para rir, na opinião dos desajustados com que me relacionava na época, e - por que não dizer? - na minha também. É interessante frisar que este tipo de ato inconseqüente fazia parte de nosso cotidiano, parte importante, aliás, a ponto de os considerarmos como indispensáveis à nossa própria sobrevivência. Ilhas de insensatez onde nos refugiávamos da mesquinhez do cotidiano. O blefe, as ilusões que paríamos é que davam o tom em nossas vidas, mas nenhum dentre nós levava isto a sério, nem mesmo em sonho moveríamos um músculo para concretizar as idéias sem sentido que todos tínhamos. Éramos uma piada, e demonstrávamos isso.
As semanas se sucederam rapidamente, e nas tradicionais agitações sociais que aconteceram eu por vezes estive presente, como espectador, esperando presenciar algo inusitado. O que realmente aconteceu, mas de uma forma que eu nunca havia imaginado.
Cheguei em casa muito bêbado num sábado pela manhã e dois funcionários da prefeitura me esperavam. Em virtude de meu estado lastimável pouco me lembro do teor da conversa, a não ser que se tratava de uma carta, a respeito da qual haviam compreendido o teor, e que havia um meio razoável de entrarmos em um acordo satisfatório para ambas as partes.
E foi assim que me tornei funcionário do Instituto Cultural, na mesma época em que o Franz partiu da cidade. O trabalho era bom, não havia horário a cumprir, e eu não fazia nada. Descobri minha vocação de artista e ainda empreguei dois amigos meus.
Na primeira oportunidade que tive, exigi montar meu próprio espetáculo teatral, intitulado “Cena um; Ato único”, a ser interpretado por mim mesmo, sozinho.
O baixo custo da produção - que necessitaria apenas de iluminação, uma capa preta e um banquinho - seduziu os burocratas, e no mesmo dia eu e mais os dois amigos que me auxiliavam preparamos tudo. Espantados com a nossa agilidade, nos conseguiram o melhor teatro da cidade num colégio católico do centro. Os cartazes que foram feitos traziam o subtítulo: Um monólogo.
Dia da apresentação, teatro lotado. No palco enorme e frio, um único holofote, com sua luz sobre o banco, que tem a altura da minha cintura e está vazio.
Saio das sombras, a capa preta sobre o corpo, e paro em frente do banco, banhado pela luz. Deixo a capa cair. Estou nu. Na platéia, pouca reação. Quem freqüenta teatro até espera por esse tipo de coisa. Mas não pelo que se seguiu.
Fiquei pelado e parado até que um burburinho na platéia se fez ouvir, até que alguém gritou:
-- Começa o monólogo!
Sentei no banco, e segurando meu pinto com firmeza, comecei a sacudi-lo, até ter em minha mão uma imponente piroca. Manuseei-a até estar a ponto de gozar, mas parei antes disso, ficando a encarar a platéia com o pau na mão. Antes de o bicho amolecer, retomei a atividade, repetindo a mesma seqüência inúmeras vezes.
No fim das contas gozei, mas quase todo o público já tinha ido embora, exceto uma velhinha bem animada e dois rapazes que se beijavam loucamente, alheios ao mundo ao redor. Meu pinto estava esfolado e sangrava, meu braço direito doía devido ao esforço, mas valeu! Cinco horas num ato contínuo de masturbação! Sem dúvida algum tipo de recorde...
Na saída, alguns autógrafos e a notícia de que estava despedido. Os jornais da cidade noticiaram o acontecimento e fiquei famoso. Não podia andar pelas ruas sem ser insultado, pois a cidade odiou meu espetáculo.
Mas tudo tem um lado bom. Um produtor teatral baiano estava de passagem por lá no dia do espetáculo e adorou tudo. Fui com ele para o nordeste e virei star. Acabei acompanhando o Olodum por uma turnê na Europa e virei cult. Até hoje tem gente na Suécia e Noruega que entra em contato comigo sondando um possível retorno. Digo que não – depois de tantos anos o fôlego já não é mais o mesmo.
O dinheiro que ganhei nessa época é mais do que suficiente para viver sem trabalhar o resto da vida. Numa de minhas viagens pelo Brasil reencontrei o Franz, já doutor pela Unicamp. Casamos e temos seis filhos, três casais de gêmeos. A maior alegria da família é quando depois do jantar eu proponho, com animação:
-- Vamos ver as punhetas do papai?
Aí todo mundo grita e eu tiro o pau pra fora e tudo vira numa grande suruba. Meto a pica em todos, menos na Genilda, que é a mais novinha e só tem permissão pra usar o vibrador do Franz.
É preciso ter ética, cara!
Cena um; Ato único.
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