Usina de Letras
Usina de Letras
136 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62181 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10351)

Erótico (13567)

Frases (50584)

Humor (20028)

Infantil (5425)

Infanto Juvenil (4757)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140792)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6184)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->O EXAME -- 10/11/2000 - 16:16 (Cristal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aquele tinha sido um mês atribulado. Na rotina diária, tomava banho, saía na maioria das vezes sem tomar o café da manhâ e com a consciência pesada por não ter tido tempo nem de reparar a cor da roupa que sua esposa estava usando. O trânsito, o escritório e os ponteiros do relógio não paravam para ele, nem quando era horário de verão.

"Odeio horário de verão!!!" Lá pelo meio do dia recebe uma ligação...

"Sr. Jurandir Pessoa, ligação da Dra. Silvia..."

"Vou Atender...Oi Doutora...."

Era para fazer mais uns exames, aqueles de rotina para verificar o famoso colesterol. Se está alto, baixo, faz parte do procedimento. Tinha decidido ir ao médico desde que um amigo de uma hora para outra fora internado com um início súbito de infarte. Isso o tinha assustado. Ambos tinham mais ou menos a mesma idade e de uma hora para outra, nunca se sabe... Estava meio ansioso pelas respostas, mas teria que esperar mais um pouco.

No dia seguinte foi ao laboratório. O atendimento foi rápido. Viu o sangue vermelho escuro sendo puxado pela enfermeira. Pensou. "Eu estou bom...". Na saída perguntou:

"Quando posso vir buscar os resultados?

"Como o senhor fez uns exames anteriormente, podemos juntar todos e entregarmos direto na médica..."

"Mas eu mesmo prefiro pegar..."

"É que a médica pediu urgência nos primeiros que foram feitos..."

"Então fazemos assim, vocês entregam os primeiros que eu pego o do colesterol, pode ser?"

"Claro! O do colesterol fica pronto amanhã à tarde..." Ela disse com um sorriso vermelho nos lábios.

Ele foi embora tranquilo. O dia seguinte também passou rápido. No final do expediente aproveitou a viagem e passou no laboratório para pegar o referido exame.

A atendente pegou o canhoto e começou a procurar o resultado nos arquivos. Sempre eram rápidos, mas de repente notou que a moça havia sumido lá para dentro pela porta de vidro. Vai daqui, vai dali e nada. Ela não encontrava. Ele lá, em pé no balcão a esperar...

Ela voltou e disse: "Acho que levaram todos para a médica...."

"Mas eu falei que ia vim buscar..."

"Espere mais um pouco por favor, vou verificar no computador..." Ela sumiu mais alguns minutos e voltou.

"Não ficou pronto. O Sr. Pode vir buscar amanhâ?"

Ele a olhou com uma cara de desânimo, mas aceitou.
"Sim, amanhâ à tarde né?"

"Sim."

Então ele se foi, um pouco ainda cismado. "Será que não ficou pronto mesmo ou esse povo sumiu com o meu exame...." Enfim desconfiado, foi-se.

Dormiu à noite como uma pedra, no horário do almoço recebeu uma ligação avisando que o exame já estava lá a sua espera.

"Ufa, estou louco para ir na médica..."

Passou de carro no intervalo do almoço no laboratório, mais uma vez entregou o canhoto para a moça que dessa vez era outra, mas ela tinha o mesmo sorriso vermelho. Ela pegou o canhoto e rapidamente buscou um envelope de tamanho médio no arquivo. Entregou para ele.

"Aqui está." Ele ainda tinha que levar os filhos para a escola. Pegou o exame e disse: "Obrigado".

Saiu rápido pela porta, entrou no carro e foi-se. Chegando em casa, antes de almoçar, sentou-se a mesa e abriu o envelope.

Comecou a ler...achou aquilo meio estranho, mas não era médico para saber mesmo.

"Papanicolau nível II, quadro inflamatório leve..." "Meu bem, o que é papanicolau...?"

A esposa que ia colocando os pratos na mesa.."Ora, é um exame..."

Ele se irritou. "Que é um exame eu sei, mas de quê?"

Ela olhou bem dentro dos olhos dele, bem séria.

"É exame de mulher..." Começaram a verificar o envelope.

"Mas será possível!!!" Quando ela arrancou o envelope das mãos dele e leu. "Jandira Pessoa Silva"

"Veja! O nome está errado, esse exame não é seu!!!"

"Ah, meu Deus, me deram o exame errado e eu já marquei meu retorno na médica às três horas!!! Não acredito que vou ter que voltar naquele laboratório..."

"Pois vai." Disse a esposa.

Os meninos já tinham almoçado. Ela enfiou as crianças no carro e ele mal tocou na comida. "Tchau bem" "Tchau". E saiu cantando pneu.

Ele sentia seu coração bater acelerado. Pensava mil coisas. "Será que meu exame não ficou pronto, se será que deu alguma alteração....Será que...." Quando despejava os filhos na porta da escola e olhou para a console do carro...

"Cadê o exame que estava aqui? Cadê?"

O caçula foi quem respondeu: "Papai, eu vi você colocando em cima do carro..."

"Em cima do carro?"

"É na garagem....em cima do carro..."

Era só o que faltava. Na pressa tinha colocado o exame mesmo em cima do carro para não esquecer e esqueceu! Do jeito que arrancou com o veículo o exame já devia ter voado longe...

"Para onde? Vou ter que voltar para procurar..." "Vão, entrem, entrem na escola!!"

Saiu de novo afobado, refazendo o mesmo caminho lentamente e já prestando atenção no asfalto.

Ainda bem que a escola não era longe e ali perto da rua de sua casa não tinha mesmo muito movimento. Passavam pouquíssimos carros. Quanto faltava uma quadra para o portão de sua casa, avistou algo que parecia o envelope branco no chã do asfalto. Bem em frente ao portão de sua casa!

"Ainda bem, já pensou se dou um sumiço no exame que não é meu! Ainda bem que está lá."

Enquanto pensava, um outro veículo vinha em alta velocidade, ultrapassou. Ele só teve tempo de assistir quando pneu dianteiro do mesmo passou bem em cima do branco do envelope.
Impaciente estacionou o carro.

"Droga!" Pegou o envelope e lá estava. Uma linda marca de pneu. Imaginou a vergonha que ia passar, além do exame não ser o dele, iria devolver o envelope aos frangalhos.... Pôs a mão no peito. Podia jurar que estava sentindo uma pontada.

Entrou novamente no carro. Cansado, suado. Partiu para o laboratório mais uma vez. O sol estava a pique.

Estacionou o veículo e entrou. Logo a atendente veio. Era outra. Mas com roupa branca e o mesmo batom vermelho. Era uniforme, devia ser.
Ela notou o seu cansaço, mas apenas disse: "Pois não?"

"Vim trazer esse exame. Me deram este no lugar do meu..."

Ela olhou para o envelope com o carimbo de pneu bem desenhado.

"Foi um acidente, me desculpe, deixei o carro passar por cima...." Ela respondeu que não tinha problema.

Ela perguntou o nome próprio dele enquanto guardava o exame do envelope sujo. Ele falou. A procura então começou. Olha no arquivo... Ele olhava para os ponteiros do relógio. Faltavam 10 minutos para as três horas! A moça entrou para a parte interna do laboratório e sumiu por alguns minutos. Ele sentia o suor escorrer pelo seu pescoço. Resolveu tomar um copo dágua. Enxugou o suor com um lenço. Quando jogava o copinho no lixo ela voltou, sem o exame na mão.

"Meu senhor, o seu exame já foi enviado para sua médica junto com os primeiros exames que fez.".

"Tem certeza? Me ligaram avisando..." Perguntou agoniado.

Internamente o que ele mais temia estava acontecendo. Já sentia um formigamento na perna esquerda, uma dor lacinante no peito parecia crescer.

"Sim, mas o doutor que fez o exame preferiu enviar todos juntos logo para sua médica não ter dúvidas...e como o consultório era aqui perto..." Disse a atendente com segurança.

As conjecturas em sua cabeça voltaram. "Duvidas? Que dúvidas..." Ele já estava atordoado e mesmo revoltado na verdade disse apenas:

"Tudo bem, obrigado".

Saiu vagarosamente pela porta do laboratório. Respirou fundo e resolveu ir a pé ao consultório da Dra Silvia que ficava apenas a uma quadra dali.

Chegou em cima da hora. A recepcionista pediu para ele esperar um pouquinho. Ele confirmou com ela se os exames já haviam mesmo sido entregues. Ela disse: "Sim, sim, já estão todos lá dentro do consultório..."

Ele sentia uma leve taquicardia. Era o momento esperado. A porta se abriu e a Dra. Silvia o cumprimentou animadamente.

"Sr. Jurandir, vamos entrar?"

Ele entrou, sentou na cadeira fofa esperando por um grande momento em sua vida. Avistou os envelopes abertos em cima da mesa. Ela pegou a ficha, pôs os óculos:

"Bem Sr. Jurandir, seus exames estão perfeitos."

Ele ouviu e ficou pensativo. "Perfeitos?"

"Sim, o Sr. está ótimo, tudo normal, normalíssimo!"

"Mas não deu nada?

"Não, nada. E um novo check-up só daqui um ano como preventivo. Recomendo apenas..."

Ele sabia que ela ia recomendar, tinha que ter alguma coisa, não era possível, tinha sido tudo tão difícil. Sofreu por aquele exame e não tinha nada?!

"Recomento umas caminhadas diárias de uns 30 minutos para manter a forma. Sabe, né..."

"Âh... Ah, é mesmo. Caminhadas, preciso fazer mesmo."

Neste momento ele caiu em si. Estava saudável! Quantas pessoas no mundo gostariam de estar no lugar dele! Sentiu que respirava mais leve, com mais ritmo. Pôs a mão no queixo pensativo...

"Então estou ótimo? Que bom!"

"É isso mesmo e... pode levar os exames..."

Ele já tinha se levantado, mas voltou e pegou os exames.

"Ah, é mesmo, os exames!!!


FIM

Geórgia
10/11/00
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui