CANÇÃO DA PARTIDA
Passam-me as horas do dia que passa,
Deixando um rasto das horas sem lida,
À luz da outrora aurora, agora bassa,
Fugace, qual cadente astro no céu.
Vida minha, tão breve e pouca vida,
Na partida, retira-me este véu,
O vazio deixado cegamente,
Pois, cega, mente à própria consciência.
A insana dor que meu esprito sente,
Do mal imposto e bem não cometido,
Impõe-me rogar ao servo clemência,
Porém sem olvidar este o tempo ido.
Se alegre chorei, da tristeza ri.
Mundo, triste mundo, em que me vi absorto,
Enfim, não mais serei parte de ti.
Libertei-me de mim, e o que se faça
Ora não mais far-se-á ao corpo morto.
Passam-me as vidas da vida que passa...
MAURICIO DE MELO PASSOS |