Não poder relembrar – 02/07/2002
Mauricio Braga de Almeida
Há uns mares que me secam,
Mas não devo descrevê-los.
Há uns pêssegos que beijam,
Mas nunca pude obtê-los.
Há um rebanho de cabras alvas,
Mas não posso apascentá-lo.
Há uma chama de doçuras,
Mas me foge o dicionário.
Há uns gêmeos entre os Andes,
Mas não atrevo escalá-los.
Há o vale de maciez e luzes,
Mas não me permitem explorá-lo.
Há umas torres de beleza grega,
Não me autorizam admirá-las.
Há uns alicerces adornados,
Mas não se deixam serem olhados.
Há libertação no simples enlace,
Mas negam-me isso à alma.
Há maciez no veludo da palma,
Mas temo perder o romance.
Há vigor, saúde, poesia,
Mas recusa-na ser transcrita.
Há amor, paixão, alegria,
Mas este olhar me desacredita...
Para nunca magoá-la,
Prefiro ferir-me,
E continuar morrendo da fome,
Que querer amar causa-me à alma.
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