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Contos-->O Japonês e a Tartaruga -- 04/04/2004 - 22:00 (Bruno Guimarães Liberal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Japonês e a Tartaruga

O primeiro murro foi o melhor de todos, uma braçada fiel e maliciosa desde a preparação até o encontro final desvirginando minha carne macia quase que espontaneamente. Depois vieram outros, pontapés, safanões, chutes na virilha, no meio da cara, na cara dos olhos. Entretanto o que mais me irritava eram aquelas perguntas indecifráveis, não era por mal não, eu realmente queria ajudar, mas só escutava um zunido agudo ressonando na minha cabeça arrebentada. Só tive paz quando desmaiei. Uma tartaruga, parecia uma tartaruga andando em seu próprio mundo de tempo retardado notando cada aspecto viral das coisas ao seu redor. Um livro aqui, um lápis ali, outro livro e mais livros, uma estante enorme cheia de livros, um computador, daqueles pequenininhos com cara de anúncio de revista, revista, onde estão as revistas, sempre há revistas e uma mosca chata pousando no mesmo lugar. Abro um olho e o teto é azul, azul pastel, não gosto do azul e fecho o olho novamente. Meu teto é branco, todo teto é branco, mas aquele lustre eu conheço, aquele quadro de Domanny, o primeiro com a lua torta.
Tenho na cara uma poça de sangue ensopando o chão de taco de madeira. Levanto-me como quem nasce pela quinta vez e tento encostar o braço direito na mesa de metal, mas não obtive sucesso, larguei a cara na quina de uma cadeira quase branca que não tinha notado, serão que horas, esforço-me mais uma vez e consigo tremulamente apoiar-me e respirar um ar de remédio, sinto-me bem, talvez seja o denso escuro que me tenha feito enxergar um teto azul e uma cadeira quase branca, jamais seriam essas as cores. De súbito a luz é acesa e por pouco não vejo a cor do teto, apenas uma cegueira branca de inverno e o mesmo zumbido cinza. Sei que eles estão lá, é verdade que em matéria de sentidos estou morto, vejo branco, ouço cinza e sinto vermelho, o cheiro é de nicotina e o gosto é de sangue.
Não sei o que eles querem, mas talvez tenha a ver com o japonês do bar. Peço perdão pelo ato cansado e um murro no meio da testa me perdoa com sabedoria. Já não consigo respirar e então consigo ver a cor do teto, era branco como todas as outras coisas e tetos e a quase cadeira e os dois japoneses e a tartaruga.
Embora não fosse uma situação comum apanhar até a morte, tinha a vaga impressão de um conforto interior já vivido milhares de vezes, apesar de apenas uma ter morrido. Agora conseguia distinguir claramente as cores e as coisas ao meu redor. A tartaruga realmente era branca, se pudesse tocá-la diria que era mármore, a cadeira tinha um aspecto envelhecido e se assemelhava ao vinho tinto, e o teto, o teto eu não olhei. Os japoneses tentaram em vão me reanimar, era engraçado vê-los com a cara assustada como se nesse momento eu fosse o carrasco, sendo eles os filhos do absurdo, surrados até a morte. Foi você, seu porra, e um murro, seu covarde, e um chute, que lindo bastão, e uma cacetada, que lindo olhos, e o crânio rachado. Não adianta tentar lembrar o que houve, já não tenho corpo, já não tenho paixão, não posso mais abraçá-la, beijá-la, possuí-la. Que tenho eu para merecer a morte, tão doce fui enquanto vida, é verdade que teve o tal japonês, mas foi um acidente, só quis assustá-lo. Maldito japonês, se pudesse tocá-lo novamente, arrancaria seu olhos com uma chave de fenda e o faria comer as bolotas com açúcar, como docinho de festa.
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