Não falarei
De que irei falar, da solidão?
Do amor talvez, do belo ou coisa útil.
De beijos do passado, da ilusão?
Não falarei de nada, tudo é fútil.
De que irei falar, desta tristeza?
Deste vazio que sinto no meu peito?
De alguém que eu perdi, desta pobreza?
Não falarei de nada, não dá jeito.
Falar da Natureza? Não. É vago.
Das flores, da andorinha eu não falo.
Da pura e doce água deste lago,
não tentarei falar e, sim, me calo.
Não falarei de nada desta vida,
pois tudo para mim é tão tristonho.
Se luto, nada sinto dessa lida.
Se deito, adormeço e não sonho.
Não falarei de nada dos espaços,
nem falarei de Deus, o Ser profundo,
mas mudo contarei este compasso
do coração que é meu, já moribundo.
Fernando Tanajura Menezes
(n. 1943 )
(in Coisas do coração - Editora Scortecci
São Paulo/SP - 1993)
http://tanajura.cjb.net
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