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cronicas-->Perdido na Metrópole (22) O retorno! -- 27/06/2003 - 22:41 (Silvio Alvarez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Volto às ruas da minha metrópole. Estava saudoso da beleza de minha cidade. Saio oficialmente na sexta-feira com humor sem igual. Peguei a gripe do momento. A gripe Heloísa Helena. Radical, não dá trégua e mesmo afastada, incomoda.

Continuo com tendinite. Braço direito doendo muito. Liguei para o Bill (o Gates) para ele mandar um daqueles computadores que escrevem sozinhos. É só ditar o texto. Não deu certo. A tecnologia não vem com dispositivos para gagos.

Sou adepto da filosofia Pollyana. Aprendi com uma editora amiga. É só encarar tudo positivamente. Experiência pessoal recente: cortaram a luz do meu apertamento por falta de pagamento. Porém, Mafalda, minha amiga geladeira teve seu tão sonhado degelo realizado. Quando tropeço na calçada e vou de joelhos ao chão, sem intenção de rezar, volto para a sarjeta e agradeço de coração. - Senhora sarjeta. Obrigado por existir. Poderia ter sido pior. - No seu lugar, caso existisse um buraco colossal poderia ter morrido.

Descarto o ónibus de sempre e vou caminhando para o trabalho, apreciando o que surge pela frente. Uma mocinha pendurada no nono andar de um edifício (eu contei) limpando a janela. Tive vertigem só de imaginá-la lá em cima. Vou observando tudo. Os pássaros! Que pássaros? A vida é bela. Ou melhor, agora inventaram o termo belezura por aqui. Lindo!

O final de semana prometia. Show do Yslauss na sexta (a banda da qual sou assessor). Descanso no sábado, um musical no domingo e uma festa black tie na segunda. Belezura!

Resolvo alugar meu smoking. Não sou um expert nestes eventos pomposos. Decidi ligar para a loja para saber o preço. - Não informamos preços por telefone por que o senhor pode achar caro sem conhecer a qualidade do nosso produto. Como ele poderia saber o que seria caro para mim. Devo ter voz de pobre. - Não procurei outra loja. Fui lá só de birra. O senhor que me atendeu ao telefone, provavelmente o proprietário, sequer olhou na minha cara. Pediu para sua funcionária me atender. Eram dois modelos, R$ 80,00 e R$ 150,00. Qual foi o que escolhi? Óbvio! O único problema foi ter ouvido o simpático comerciante cochichando atrás do provador. - É duro trabalhar para pobre. Êpa! Mantive a classe com esforço. Não o fiz engolir a caixa de alfinetes.

O artista plástico Bruno César resolveu ir ao show do Yslauss na casa noturna em questão. Foi de boné e levou um amigo de gorro. Enquanto fazia meu serviço de RP percebi uma movimentação de seguranças junto à sua mesa. Eu e meu karma com seguranças. A casa tem como norma não permitir o uso de bonés e congêneres. Por quê? Explicou o homem-jamanta com um terno impecável e microfone de Madonna. - O uso de bonés e gorros está associado à marginalidade e não combina com o público de nosso estabelecimento. Era acatar a norma ou deixar o lugar. Absurdo! Não estava com a constituição em mãos e não achei que seria apropriado cantar o hino nacional. Ficamos todos sem graça e engolimos. A seco. Policiais usam bonés, não?

No dia do show já estava espirrando sem parar. Sábado estava muito pior. Sai para um café e voltei tremendo feito vara verde. Três cobertores. Fiquei de molho até o final da tarde de domingo. Sem forças para nada. Havia marcado para assistir a um musical. Fui de teimoso. Dormi no meio do espetáculo.

Belezura! Sobrevivi! Segunda-feira serviço normal. Depois do sucesso da Parada do Orgulho Gay, virou moda, acredito que em todos as repartições, uma certa piadinha.
- Foi na Parada, né? Caiu na farra! Foi de borboleta? Acho que me fizeram esta pergunta 487 vezes. Não tenho nada contra, até iria. Só que eu não fui! Eu não fui à Parada Gay! Com aquela gripe toda, os engraçadinhos de plantão devem ter imaginado: foi pelado sobre um carro alegórico com ar condicionado. Belezura!

Chegou a noite da glamourosa festa black tie. Tive medo de que alguém me raptasse para colocar sobre a geladeira. Levei um casaco para tremer menos. Fui de Táxi sem a Angélica. Senti falta do tapete vermelho do Oscar quando recebi minha estatueta no ano passado em Los Angeles por melhor cabo man em O Enforcado, grande sucesso ainda não lançado por aqui.

O convite era individual. Não aceitarei mais convites individuais. Você fica lá sozinho, com cara de ameba solitária esperando uma brecha para puxar algum assunto sem graça com quem você nunca viu mais gordo. Toda pompa possível e não tinha nenhum local para guardar meu casaco. A recepcionista com laquê até à medula foi supersimpática: - Não temos chapelaria. O senhor fica com seu casaco no colo mesmo. Ótima dica. Elas estavam preocupadas com os Globais e os SBTais que chegavam a todo instante. Iam ligar para um casaco de um colunistazinho como eu? Procurei o maitre. O problema é que em festa black tie só tem maitre. Um garçom hiper simpático que merecia estar no lugar da mocinha resolveu meu problema. Estava mais perdido que cachorro em tiroteio. Um sujeito apontou em minha direção e me chamou. Ainda confirmei se era comigo. Fui. Paguei o maior mico. Desisti. Peguei meu casaco e voltei pro aconchego do meu lar.

No dia seguinte manchetes em todos os jornais. Dois apresentadores de TV trocaram sopapos em plena festa. E eu perdi? Sai antes. Engraçado, não vi ninguém usando boné no evento.

Silvio Alvarez é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista. silvioalvarez@terra.com.br Ilustração - Bruno César: brunoartes@uol.com.br
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