DE CORPO INTEIRO
Teus cabelos têm textura
das penas dos cisnes brancos,
têm beleza, são cheirosos,
macieza, são sedosos,
como os lírios dos barrancos.
Teus olhos têm alma e luz
d’agua que escorre em descida,
desce às baixadas em festas,
dá vida ao musgo, às florestas,
enchem meus olhos de vida.
Tua boca esvai-se em sorrisos
de garota acariciada,
se a chama do amor ondeia,
queima ofegante e volteia
outra boca enamorada.
Mas dos sorrisos deserta,
se a saudade de surpresa,
sem consultar a ninguém
chega com mofa e desdém
e lhe agasta a natureza.
O colo do teu pescoço
é querido e sempre amigo,
confidente nas mi’lhas dores,
nos maiores dissabores
me recolhe em doce abrigo.
As vezes bobo me esqueço,
que há tão pouco me perdia
beijando-o a cada segundo
c’o carinho mais profundo
e a mais profunda alegria.
Teus seios tufões bravios,
formosos, lindos, perfeitos,
deliciosos, infernais,
leves naves siderais
razantes sobre os meus peitos,
têm perfumes de açucenas
que do coração se escoam
e dos seus bicos rosados
pululam silfos dourados
que o amor e o sonho abençoam.
Teu ventre firme agasalha
na encosta dos meus desejos,
o teu umbiguinho gozozo,
indefinível, gostoso,
coberto sempre de beijos.
Deste ponto, então, despenco
à gruta da inspiração,
pois que o perfume, a fragância,
a beleza, a exuberância,
me acende ao gozo e a paixão.
Desço à rósea vassalagem
e de joelho ao servilismo.
Seduzido, sedutor,
curvo-me e beijo essa flor
nas fogueiras desse abismo.
Ágil no jogo, atrevido,
volto-lhe o dorso e abro em par,
as pern’as nádegas bastas,
à volúpia a que me arrastas
ao prazer de cavalgar.
E as pernas, desnudas pernas,
lindas num corpo de fada
quando encostadas às minhas,
são pernas de uma rainha
a minhas pernas convoladas.
E vão se abrindo de leve
para o anseio mais profundo
em que o prazer ofegante,
derrama sumo abundante,
fértil, gostoso e fecundo.
Os teus pés pagam promessas,
fortes marcas de expiação,
porque mesmo bem cuidados
pagam teus brabos pecados
se arrastando pelo chão.
Mesmo chatos, não são chatos,
rasteiros, não são vulgares,
vez por outra pedestal,
para a mais linda vestal
dos meus sonhos singulares.
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