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cronicas-->Certos dias a gente deveria dormi-los... -- 28/06/2003 - 17:30 (Athos Ronaldo Miralha da Cunha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Tem certos dias que a gente deveria dormi-los já que não se pode morrê-los".
Athos Ronaldo Miralha da Cunha


Que dia!
Um dia que eu não deveria tê-lo vivido. Horas cheias, intensos momentos e circunstàncias tensas. Por isso justifico minha tristeza.
Lembrei-me várias vezes dos versos de um poeta que a minha memória impede de citá-lo. "Tem certos dias que a gente deveria dormi-los já que não se pode morrê-los".

Um dia cheio porque foi inclemente com a folga. Preencheu com a ansiedade os breves minutos de descanso. E não deu uma trégua sequer. Cobrou-me até os segundos vazios diante de uma vitrine. Surrupiou-me, inclusive, os minutos inertes de um aromatizado cafezinho. Um dia cheio porque me completou e não parei e não me perdi. E andei... andei por essa velha Boca do Monte.

Mas também foi intenso porque foi incessante. Não teve choro e, sim, resmungos de dor. Foi implacável com as horas laboriosas. E pragmático como um raio X.
Foi intenso porque o pensamento esteve agitado e porque o sol não teve tempo de ser rei. E porque a chuva sucumbiu ao sopro do vento. E foi nessas horas ligeiras que fatiguei rodando pelas ruas e quase sucumbi.

Também foi tenso porque na calçada sangrou no rodar das rodas do skate. E no bip-bip do termómetro a temperatura ferveu. E, ainda, como complemento, na pele, pontos se fizeram cicatriz.

Mais que uma folha em branco sobre a escrivaninha de um quarto vazio, um dia quase-triste e imperfeito no seu desenvolvimento.
Será impossível esquecê-lo, por isso quero guardá-lo na periferia do pensamento. Até porque não quero morrer por essas horas.

E quando finda essas horas que pareciam infindas, saio do agora e só encontro ocasos. E nesse momento quando a angústia toma conta de mim, desligo o rádio e me descubro em sono profundo.

Assim, percebo que o importante é seguirmos adiante e vermos que no horizonte brilha o sol que ilumina campos verdejantes de esperança.

Enfim, um dia que não pude chimarrear solito e saborear reminiscências.
Mas mesmo assim, as peças desse inexplicável inverno pretensamente ameno, se encaixam. Prevejo no final cada par no seu lugar, guardando a ordem da vida que continuou rodando.
Rodando nas rodas do carrinho de lomba, nos belos passos de balé e no teclado do jurássico computador. Como se a biologia fizesse as pazes com a vida.

27.06.2003.



O vazio

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