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Erotico-->GALINHAGEM -- 25/08/2003 - 12:04 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A violência do espirro que me acometeu, naquela manhã, jogou meus óculos longe. Eu estava prestes a adentrar no asilo onde visitaria um amigo, que por força das circunstâncias via-se agora, ao findar sua vida, naquela instituição. Saí às apalpadelas, em busca das lunetas, quando de inopino, batí com a face num ventre elefantino.

A gordona, coisa feia "lesa lerda", olhava-me de cima para baixo.; tinha no semblante um ar de censura e com as mãos dobradas, apoiadas na cintura, como asas dum bule velho, fazia pose amedrontadora.; impaciente ela batia a sola do pé-de-anjo direito no chão. Eu estava, meu amigo, naquele momento, tomado por uma cefaléia horrível.

Passou por nós um grupo de adolescentes, envolto naquela zoada própria. Cheguei a refletir no contraponto entre a barulheira da mocidade alegre, que vivia ali fora, com os amuos da velhice triste instalada dentro daqueles muros.

Consegui recuperar minhas lentes e limpando-as, de improviso, com o lenço que trazia no bolso trazeiro, recoloquei-as no seu devido lugar. Pude então ver aquele ser brabo, que mais lembrava um sargento a chamar-me a atenção. Aquilo era composto com mais autoritarismo que jamais compusera qualquer senhor de engenho ou capitão-do-mato.

Pensei na mensalidade que a chefia cobrava para manter meu amigo, um velhinho pobre e subnutrido, naquelas condições precárias: R$750,00 (setecentos e cinqüenta reais) mensais.; mas se fossem pagos adiantados haveria um desconto, e o valor se reduziria a R$718,00 (setecentos e dezoito reais). Eu rezava para que nenhum deles tivesse um chilique e, por uma bobeira qualquer sofresse ímpetos suicidas pendurando-se numa daquelas treliças sustentantes das telhas quentes de amianto.

Subí as escadas e dirigí-me ao funcionário entrincheirado atrás do balcão plantado naquele átrio frio. Lá estava ele no seu posto, conseguido depois de lutas tremendas: Era o Paulinho, meu amigão do tórax, que facilitava minhas visitas ao vovô abandonado. Na verdade, Paulo K. Brito era separado da sua esposa legítima e por artimanhas mil do destino zombeteiro, via-se agora ali como chefe do setor de informações da clínica geriátrica.

Depois das visitas, quando o rumorejo cessava e ficávamos a sós naquela dependência, ele gostava de segredar-me as ocorrências presenciadas nos cantos e cômodos obscuros do prédio. Dizia-me que havia um diretor esquisito que, pelo andar da carrugem, vivia com o aríete em riste perambulando saltitante, atrás da secretária esquiva.

Paulinho K. Brito segredou-me que a moça não queria saber de graça pro seu lado e que, em ofício detalhado, relatara as peripécias do comedor ao seu superior hierárquico. No "arranca rabo" que se sucedeu, entre quem queria comer e quem não queria ser comida, sobrou demissão. A balzaquiana foi dispensada para satisfação e glória do caudilho.

O caso picante, estimulou até dona Julie Francis, a velhinha apática, encarquilhada e cascosa, que com sua bengala grossa na mão esquerda, sentadinha no sofá marrom e vetusto, ao ouvir as peripécias do degenerado, riu-se à solta, rememorando seu marido que nos tempos idos e frutuosos, gostava dumas sacanagens estimulantes.

Ju, como era carinhosamente chamada pelas serviçais, desde então, sentia-se abatida somente quando percebia o anoitecer.; e que deveria passar mais uma noite, dentre as centenas que já passara, amarrada à cama, junto com duas outras desdentadas e boquiabertas colegas suas.

Mas, naquela tarde em que cheguei para rever meu amigo, soube da notícia funesta: ele expirara terminando ali seus últimos dias. Que final infausto pra quem desejara sempre tudo de bom pra quem quer que fosse.

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