Num morro junto à costa
Gaivota branca pensava
Na vida que a desgosta
No tempo que a alegrava.
Farta de tanto esperar
Por outro rumo de vida,
Deixa a costa parte a voar
Para terra desconhecida.
Cheia de boa vontade
E esperança doutro viver,
Chega cheia de saudade,
Com vontade de vencer.
Perdida por remotas terras
Longe do bulício, na agrura,
Desbrava montes e serras
Sob o peso da amargura.
Os anos passam com lentidão,
A vida aos poucos esmorece,
Quebra de saudade o coração
P lo morro que nunca esquece.
Filha da constante desgraça
Que como raio a fulmina,
Olha o tempo que passa
Vergada à dor que a domina.
Velha e triste na solidão,
Murcho o viço da mocidade,
Lágrimas verte de ilusão
Perdidas no tempo e idade.
Sem forças, exausta e pobre
No morro continua a pensar,
Resta-lhe o carácter nobre
Da vida que chegou a sonhar.
Cheia de desgosto e sofrer
Gaivota branca resolve voltar
À costa que a viu nascer,
Ao morro onde aprendeu a voar. |