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Cronicas-->Perla -- 29/06/2003 - 17:09 (Juraci de Oliveira Chaves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Ela sempre sentava na última cadeira da sala. A professora já a havia mudado de lugar, perto do quadro mas volta e meia ela estava procurando espaço para se acomodar. Era alta, corpo definido, cabelos encaracolados crespos e longos. Estava sempre com seu material escolar e suas atividades a contento. Cursou o pré- escolar no jardim de infància e conseguiu chegar ao terceiro ano do ciclo intermediário ( 6ª série) com apenas onze anos.
A dinàmica de grupos era constante em sala de aula.
Um dia, ao formar os grupos à pedido da professora, ouviu quando o colega reagiu:
- Você não vai ficar em nosso grupo. Já está completo dizia Gustavo, enquanto arrastava o outro quase à força, para completar o número da equipe.
- Por que não posso ficar aqui?
- Não queremos negro no grupo. Dá azar. Atrai o negativo. Precisamos de um bom
resultado nesse trabalho. Meu conceito anda lá embaixo e não é com você aqui que ele vai melhorar. Aliás, só vai piorar. Quer saber mais? Seu lugar não é aqui no Colégio Pio XII. Não observou a cor refinada dos outros estudantes? A grande maioria é branca. Se toca garota!...

- Quem vê você nesse ódio todo Gustavo, pensa que está gostando da Perla. Ou está?
- Deixa de ser trouxa, Guilherme. Onde já se viu isso? Nem por
castigo.
- Na terra do coração, ninguém manda.
- Nem morto! Detesto esse tipo de gente; se é que podemos
classificá-los como gente.
Perla não revidou. Não estava no seu dia de bom humor. Saiu devagarinho, não procurou outro grupo e sentou-se isolada chorando com a cabeça baixa presa aos joelhos.
Não era a primeira vez que Perla ouvia comentários racistas e nem seria a última mas, não sabia porque, aqueles, machucaram-na por demais.
Estudava naquele colégio fazia tempo. Fora adotada por uma família rica antes mesmo de nascer. Era filha da empregada da casa, descendente de escravos. A mãe morrera do parto, quando a menina nasceu. O que Perla não sabia era que seus pais adotivos fossem realmente seus avós verdadeiros. Na época, houve alguns comentários mas logo esquecidos. Poucos sabiam e até questionavam como era bem tratada, naquela mansão. O filho do patrão é patrão. Quando eles atacavam... E Perla veio ao mundo, debaixo de muitos segredos e mistérios.
- Vem para esse grupo, menina. Está incompleto e hoje a dinàmica é em grupo, - dizia calmamente, dona Filó.
Perla não se manifestou despertando a atenção da mestra que estranhou essa reação inesperada da aluna.
Alguém sabe por que Perla chora ?
Ninguém respondeu, quando Gustavo comentou com indiferença:
- Não se preocupe fessora, é fricote de negro para chamar a atenção.
- Como é que é isso!? Você esqueceu o nome da colega Gustavo?
- Ela é chata mesmo. Acha que é a sabichona da sala; esqueceu que é preta; a pretinha do Colégio. Eu já disse que o mundo é dos brancos e que ela é uma mosquinha que caiu no leite.
- Caiu no seu leite Gustavo? Ou no seu coração? - brincava Guilherme observando a fúria do colega de sala.
Dona Filó aproveitou o momento para abordar aquela aula adiada à espera de um momento adequado:
- Você já parou pra refletir que pode estar errado na sua forma de agir e pensar?
- Ora vejam! A professora ainda vem em defesa dessa negrita cabrita. Ela vai ver, lá fora, na saída... Meu pai falou que se me vir perto desses... desses..., corta minha mesada e me tira do testamento. Minha mãe? Ah, minha mãe... grita sempre no meu ouvido: "Negro não presta. Quando não borra na entrada é na saída."
- Cheeega Gustavo! Todos somos iguais. Não quero rivalidade entre colegas dentro da sala de aula e em lugar algum. Vamos fazer a tarefa sem demora.
Dona Filó quase mandou o garoto para o gabinete mas, adiou novamente o assunto, para trabalhar com toda a comunidade escolar. Atacaria sobre o tema, pela raiz, na família.
Faria um projeto sobre o acorrido na sala e desenvolveria a unidade de estudo.
Ao ser comentado na sala de reuniões o ocorrido na sala de d. Filó todos optaram para que se envolvesse toda a escola.
O assunto foi eixo temático durante duas semanas com excursões, entrevista, palestras, peças teatrais e concurso da garota estudantil do colégio.
A euforia no pátio era enorme com a agitação da votação para a escolha da garota. Cada grupo com suas preferências, com seu modo de caçar o voto para o pretendente.
Foi um reboliço na escola. Final de projeto e objetivo alcançado.
Parecia brincadeira mas, lá estava Perla no centro, ladeada pelas garotas do segundo e terceiro lugares. Vários alunos, após o desenvolvimento do tema, viram Perla com olhares diferentes.
Para Gustavo foi uma morte. Ainda mais quando elogiavam e parabenizavam a aluna vencedora.
Quando o som já tocava a música final do desfile da vencedora e Perla distribuía encantos desfilando no centro do círculo, Gustavo foi até o microfone abaixou a música e convidou em bom tom:
- Professora, vamos agora, para fechar com chave de ouro, fazer um jogo de futsal entre brancos e negros ?
- E por que brancos e negros? Podemos fazer dois times com
alunos da Escola.
- Muito bem, dona Filó, vamos logo formar os times: - gritavam
numa aclamação geral.
Minutos depois, a quadra esportiva parecia explodir, tamanha era a euforia de todos, numa integração total e Gustavo era o juiz. Um juiz também com atitudes diferentes.
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