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cronicas-->Trabalho, que ofensa -- 01/07/2003 - 17:08 (Hamilton de Lima e Souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Estava pensando num velho conhecido lá pelas bandas de Curitiba, Zé Cansaço. Nascido pobre, aos oito anos já era auxiliar de falso cego perambulando pelas praças Tiradentes, Carlos Gomes e Rui Barbosa.
Aprendeu os macetes de olhar as mulheres, contar mentiras e acima de tudo, apreciar as pequenas coisas boas da vida, como as moedinhas generosas do povo cristão, um doce apanhado de vez em quando, uma mão carinhosa na fronte, coisas típicas de uma cidade que ainda tinha um certo ar bucólico no início dos anos 70.
Viu o surgimento de grupos de hippies pelas ruas principais do centro da cidade, a repressão estudantil, mas nada disso o impressionou. Das drogas gostou um pouco, mas acima de tudo aprendeu também a descansar.
Nos intervalos de intenso trabalho indicando o caminho para o falso cego costumava se deleitar com a grama das praças, onde curtia suas sonecas. Belas sonecas ao sol generoso dos dias frios da grande cidade.
Aprendeu antes dos grandes teóricos de fim do século 20 que descansar era a grande recompensa para quem trabalha, e também para quem não trabalha.
A vida obrigou-o a mudar o prisma. A família numerosa o despejou sob a acusação de vagabundagem. Coisas de falsos burgueses. Apenas se poupava para um momento maior, algo que realmente valorizasse não só a sua, mas a existência daqueles que o cercassem.
Conseguiu uma nomeação para ser fantasma no governo paranaense, onde religiosamente todos os dias chegava atrasado. Sofria perseguição de alguns chefes, que exigiam produção.
Um grande desgaste psicológico. Era obrigado a chegar sempre pelo menos uma hora antes do final do expediente, o que comprometia a qualidade de seu sono, por sinal, sua maior virtude.
Encontrou uma jovem trabalhadora e com ela juntou trapos, estabelecendo um vínculo que se tornou mais tarde casamento. Zé Cansaço no início até levou aquilo mais a sério, mas também veio o sentimento de muitas obrigações, o que tornou seu casamento penoso.
Por falta de cuidados três filhos foram chegando. Zé então teve um princípio de estresse. Embora a mulher trabalhasse, tinha que pensar na comida dos filhos. E os chefes continuavam exigentes.
Foi então que tomou uma atitude de homem. Pediu demissão do trabalho e comunicou à infeliz que não mais trabalharia. Finalmente encontrara sua maior vocação. Nem como fantasma do governo queria ser tratado. Alegou que um homem tem que ter princípios.
A última vez em que vi Zé Cansaço estava esperando um favor de uma certa central sindical. Seria nomeado secretário geral sem ter que dar expediente. Ainda não sabia como resolver o dilema de ter que contar o salário no final de mês. O manusear de notas feria seriamente seus princípios.
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