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Contos-->Amor profissional -- 19/04/2004 - 13:11 (Michele Mourão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Amor profissional

Saí de casa sem rumo. Matei o trabalho para ficar o dia sem fazer nada, mas resolvi dar uma volta pela cidade, passear um pouco, ver gente, olhar o movimento. Andei sem parar olhando as vitrines, vendo as roupas da moda e apreciando os sapatos estilo anos 70 que voltaram com tudo nesse inverno paulistano.
Mas faltar o trabalho ontem pela manhã me trouxe uma novidade, um estímulo que há tempos eu precisava para continuar com o meu trabalho estressante. No final da manhã, com várias sacolas na mão e quase nenhum dinheiro no bolso, distraída bati na pessoa que cruzou a minha frente. Um homem alto, com um pouco mais de idade que eu. Na verdade ele parecia um armário de tão grande, ainda me ajudou a levantar, quem estava por perto riu do trombo de corpos. Ele não conseguiu segurar o riso, perguntou se estava tudo bem. Gentilmente disse que estava indo almoçar na esquina, um restaurante muito fino, daqueles frequentados por pessoas da alta roda da sociedade de São Paulo e como estava sozinho queria companhia. Percebi que ele era daqueles que não convidavam diretamente mas, tinha boa intenção.
Foi então que resolveu se apresentar, levei um susto ao saber que tinha o mesmo nome do meu namorado, ou melhor, a essa altura da vida eu já não sabia mais de nada, se eu ainda estava compromissada ou solteira. Mas decidi aceitar o convite.
No final do encontro improvisado ele me levou para casa. Nem perdemos tempo trocando telefones e nem mantivemos uma conversa muito profunda. Falamos apenas de assuntos superficiais, mas agradáveis, onde ambos pudessem dialogar livremente sem problemas, sem impor nossas opiniões pessoais, questões como política, religião e jogo. Era melhor deixar como estava, um breve, porém feliz esbarro.
Acordei pronta e renovada para o batente, eu adorava a loucura alucinógena que me tirava as noites, mesmo quando vivia a reclamar, o que era de praxe para quem exercia meu tipo de função. Nossa nova chefe, uma mulher sem paciência e sem bom senso. Comunicava reuniões a qualquer momento do dia e, quem já havia terminado seu expediente tinha que retornar correndo por causa de suas exigências.
E essa manhã não foi diferente, a sirene tocava, aos berros, ela nos chamava, desta vez era para anunciar a chegada do novo membro que assumiria a função de substituto da chefe. Para meu desespero era o mesmo homem que eu conhecera no dia anterior. Ele sorriu e me cumprimentou. Ao final da sessão de exorcismo, disse baixinho, quer uma carona? aceitei. Era hora do almoço e novamente fomos, mas desta vez nos enganamos. Erramos em agir tão rápido, pois naquele momento começaram os falatórios, normais em qualquer ambiente de trabalho, principalmente o nosso.
A empresa era um campo minado, onde os comentários corriam soltos, até porque no meu caso, todos sabiam do meu relacionamento, não em que pé estava (de mau a pior) mas que eu era a mulher mais séria dentre as compromissadas colegas de trabalho.
E o novo companheiro, ainda era uma incógnita a ser definida, pelas demais funcionárias, que não se faziam de rogadas e atacavam os bonitões que adentravam a sala geral, como era chamado nosso local de trabalho.
No decorre dos dias pudemos ouvir os boatos e conseguimos nos redimir, contendo nossos instintos de homem e mulher. Fomos nos descobrindo através de encontros "sociais" e ligações via ramal. Soube que era separado pela segunda vez. Do primeiro casamento uma moça já quase entrando para a faculdade e do segundo relacionamento conjugal, dois meninos entrando na puberdade.
A medida que os meses passavam nossos olhares eram ainda mais evidentes. Meu estômago revirava só de vê-lo se aproximar. Cada vez mais apaixonado, receber flores se tornou um acontecimento corriqueiro que nem mais impressionava os demais profissionais do ramo reunidos no recinto.
Precisei viajar por quase dois meses para poder terminar meu namoro que já durava meia década. Pedro não compreendia o fim de algo que ele, somente ele, acreditava que seria eterno. Sua obsessão por mim se tornou um medo de todos os que conviviam comigo. Quando retornei, soube que um mês depois ele deixou o Estado. Fiquei ainda algum tempo sozinha, eu diria que um bom tempo, o suficiente para reavaliar o que era melhor para mim.
Meu chefe substituto se afastou um pouco de mim. Ficou triste pela nossa distância e chegou a faltar alguns dias, disse que estava doente, doente de amor - escreveu ele na carta, onde me pedia em namoro.
No dia em que ele - Pedro voltou a trabalhar - 8 quilos mais magro, nós saímos para jantar, estiquei meu expediente para poder conciliar com a saída dele, e podermos ir embora juntos. Por incrível que pareça depois de mais de um ano que nos conhecemos é que nos beijamos pela primeira vez.
Durante esse tempo nós só nos alimentamos, acrescentando a cada dia vida nova ao sentimento que cochilava em nossos corações. A evidente paixão até então uma amizade que ambicionava mais, apenas era percebida por palavras soltas ao vento, as vezes direta, as vezes sutil.
Nosso local de trabalho foi o último lugar onde expomos nossa união. Seus três filhos vieram para a grande São Paulo para cursar faculdade na mesma época em que eu me mudei de vez para o apartamento dele. Na ocasião compramos nossa casa juntos, uma mansão no Alphaville. Afinal, nossos planos de constituir família estavam só começando...


mimourao@yahoo.com.br
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