Insensatez
Insensatez, quem sabe, talvez,
permitir-se construir uma espiral
de expectativas
e deixar que o desejo
adentre pouco a pouco
minando resistências
até onde mais for,
ilimitado,
a débito do que seria
o amor.
Mas há no amor estupidez
tanta e de tal modo que ao
autoconceder-se o encanto
deva chagar-se em culpas
por uma cumplicidade inculta
com as iletradas razões
do coração,
nas vezes em que
se desalinha
na dor ?
A dor da paixão é vária,
e ao contrário do amor,
fugaz...
tão efêmera
que logo ao degredo
se sacrifica
incapacitada de sangrar
infinitamente.
Que razão, pois,
escusar-se aos segredos
das bem-aventuradas
moções do coração...
Ocultar-se-lhe por excesso
de zelo, ou sob um inquietante
medo de arrependimento:
é de si próprio a negação.
O amor, seja lá como for,
deixa marcas indeléveis
na alma cada vez que germina,
e contamina de tal modo
que ela sem essa partilha
apenas lapida
a própria solidão.
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