Eu, hoje, não estou aqui
Para escrever nada.
Que poderia escrever o verme, das traças, que andam sobre os papéis
Sobre os quais ela pousa suas mãos ?
Sobre os quais ela chora de amor ?
Quem sabe dos pensamentos que a atormentam ?
São dores dilacerando seu espírito,
São sim, reais, reais, como eu e você e as pedras.
Que são meus dias comparados aos dela ?
Aonde vão meus pensamentos de inseto quando ela lança seu olhar terno ao infinito ?
Que são minhas vulgares idéias
Quando às vagas, aos mares, à Lua ela compreende, e, dando-lhes as alvas mãos, sorri ?
Quem sou eu, verme, ponto minoríssimo,
Lançado aos abismos dos meus medos ?
Quem sou eu, pecador vulgaríssimo,
Prostrado à sua presença ?
E ela, pousa seus pés descalçados sobre os dragões,
Enterra-lhes a lança à traquéia,
Raio de sol nesse sinistro escuro que me rodeia !
Vem então, etérea, radiante,
Leva-me consigo ao colo, cobre-me com seu manto de estrelas,
Fala-me palavras doces ao ouvido
Salva-me, ouve, a Vida, sabedoria encarnada, Sophia !
Venha ela, tu, Mãe, salva-me, livra-me de mim.
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