Brasília , 23/fev/2005 – 16:43h
Escondida em algum ponto
muito escuro do meu peito
uma ferida quase seca
ainda produz efeito.
Sangra ao mais leve toque
de lembrança descuidada
das dores que provoquei,
das tristezas que lavrei,
da palavra mal falada.
Sangra, primeiro em gotas.
Abre-se e, às golfadas,
jorra livre das rolhas,
e, assim, descontrolada,
segue molhando as folhas
das páginas mal viradas,
das letras não apagadas,
sem me dar nenhuma escolha.
Dói a ferida seca
como se recente fosse.
Dói e sangra e grita e corta
como feita por foice.
Foi-se o corte,
e também com ele a foice
mas a marca ainda tem porte,
e sabe a sangue, agridoce,
mas ao final, é mais forte
o gosto amargo, salgado,
da pele rasgada à faca,
da dor a outro causada
por falta de outra escolha,
pela ausência indesejada
do amor que morrera.
Mais nada.
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