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Contos-->Nova Urubupanga -- 28/04/2004 - 15:31 (Bruno D Angelo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Na placa que indicava o nome da cidade já se poderia esperar algo de diferente: “Bem vindos à Nova Urubupanga”. “Este nova não estava aqui quando eu saí”, pensou José William quando adentrou aos domínios do município de Urubupanga, quer dizer Nova Urubupanga, sua velha cidade; o lugar onde nascera e vivera até os 12 anos.
Quando o ônibus parou na rodoviária, José sentiu aquele frio na barriga. As mãos começaram a suar e coração deu aquela aceleradinha. Como seria rever tudo aquilo? Será que os lugares de infância ainda continuavam lá? Pegou a mochila no bagageiro. Colocou uma alça entre o ombro e segurou a outra. Apesar de nova, ela já rasgara. Respirou fundo, pensou em algo agradável, logo depois sorriu. Olhou para o céu. O sol ofuscava. Olhou para o chão. Um monte de lixo espalhado pela calçada. Olhou ao redor. Carros. Caras desconhecidas. Caos.
Que bom, o progresso já chegou por aqui! Inevitável. O rosto de José mudara de feição. Aparentemente, ele não reconhecera ninguém. Aparentemente, tudo havia mudado. A própria estação rodoviária não era mais a mesma. Agora mais moderna e suja. Também, o que ele queria, anos já haviam se passado desde de sua partida. Anos que com certeza faziam diferença.
A cidade se transformara em pólo turístico. Pelo menos foi o que José deduziu ao olhar o outdoor imenso do outro lado da rua: “Venha conhecer as maravilhosas cataratas de Nova Urubupanga”. Aquelas quedinhas d’água? Puxa, estes publicitários vendem até areia no deserto! Nada demais, José seguiu em frente, a curiosidade em conhecer a nova atração da cidade não era maior do que o desejo em rever o casarão onde vivera a infância
Saiu da rodoviária, dobrou à primeira esquina a direita e seguiu rumo a velha casa. Queria ver sua antiga habitação. Reacender suas memórias: brincar de escorregar no corrimão da escadaria de madeira; brigar com os irmãos que nunca teve, mas que não foram empecilho por causa de sua incrível imaginação; jogar futebol no lamaçal em frente à casa e observar o pôr do sol da janela do seu quarto. Que pôr do sol! Aquele que indicava a hora de dormir.
José estava com medo. A cada passo que dava, alguma mudança pulava diante de seus olhos como um bicho feroz. As pequenas casinhas dos amigos de seus pais já não existiam mais. Agora, só se olhava para cima. Prédios. Blocos concretos. Caixas com janelinhas. José começou a temer por seu casarão. Será? Ficou furioso com o mau negócio. Voltar à sua velha cidade e encontrar uma quase megalópole! Devia ter ficado em São Paulo. Pensado isso, distraiu-se e quase foi atropelado por uma charrete puxada por jegues. Bem, tem coisas que nunca mudam. Na traseira do transporte rústico escrito: “www.passeiorustico.com” . É!
Continuou caminhando e mais a frente viu uma lona branca gigante. “Um circo”, pensou José. Resolveu ir até a porta do estabelecimento para assuntar. Perguntou a dois homens de preto com cara de mal encarados o que se passava lá dentro. Uma rave? Não acredito! José balançou a cabeça e prosseguiu a epopéia de volta ao lar. Mais nervoso ainda. Mais inseguro.
A ladeira derradeira. José lembrou que dali podia ver o casarão. Olhou e viu. Lá estava ele. Imponente. Intacto. Aliás, era a única casa dos arredores que havia sido conservada. Ao ficar frente a frente com ela, viu a placa explicando que o casarão havia se tornado um patrimônio histórico. Nossa! José ficou parado uns minutos diante da fachada. Os tempos de criança voltavam cristalizados naquele lugar. Ao ir embora com os pais, jurou que os novos donos destruiriam tudo e construiriam outra coisa no lugar. Mas tudo mudou, menos o seu casarão.
A respiração ofegante aos poucos foi se acalmando. José deu o primeiro passo, depois outro e outro. Quis bater na porta, mas ela se abriu com o leve encostar de suas mãos. Achou estranho. Olhou ao redor e entrou. O corredor de passagem para a sala continuava o mesmo e uma saudade embaçou seus olhos. Lagrimas.
José queria ver a velha sala novamente. O velho lustre. Seus velhos pais parados ali, esperando por um abraço. Mais um passo. A sala. Nada mais. Nada mais de antes. José viu um guichê, mais outro e outro . Eram seis no total. Pessoas em fila esperando sua vez de trocar o cheque, depositar o dinheiro ou sacar. Nada mais de antes. William ficou ali parado, boquiaberto, com uma única certeza: que na vida tudo muda.
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