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Contos-->Verônica e Narciso -- 28/04/2004 - 15:42 (Bruno D Angelo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O sujeito olhou pra mim e disse, “Não fui com a tua cara”, sacou um revólver da cintura e atirou bem na minha testa. Sei lá. Não deu tempo pra nada e as luzes se apagaram. É óbvio que o cara não me matou porque não tinha ido com a minha cara. Ele tinha um motivo chamado Verônica. Sim, e que motivo!
Era terça-feira. Bem, não importa o dia, o que importa é que estava quente. Também não importa isso, eu ia transar com aquela dona de qualquer jeito. Ela já estava me dando mole há um tempinho, desde que mudara pro bairro. Um dia não agüentei, ela passou rebolando com aquele vestidinho apertado bem na minha frente e eu fui praticamente obrigado a tomar uma atitude. Nem precisei argumentar muito, ela já foi me dando a chave de casa e disse baixinho no meu ouvido. “Eu subo antes”. Sabia que o marido dela estava para chegar, mas o desejo falou mais alto. Esperei uns minutos e fui.
Primeiro andar. Apartamento doze. Lembro bem do andar e do apartamento, pois foi o que salvou minha pele naquele dia. Entrei cautelosamente no corredor e antes de abrir a porta me certifiquei de que não havia ninguém que pudesse me reconhecer. Eu nunca havia feito isso antes - não sou bonito e normalmente, mulheres como Verônica me ignoram - mas não queria ser pego logo na primeira vez. Coloquei a chave na fechadura e virei lentamente. Eu fervia por dentro.
O apartamento era modesto, como quase todos do bairro e não demorei a achar o quarto de onde ecoava a voz de Verônica. Era difícil acreditar que aquilo acontecia comigo: uma mulher linda, nua, me esperando daquele jeito e repetindo meu nome baixinho. “Vem Narciso, vem!”. Acho que foi nesse momento que eu desmaiei. Acordei, deitado numa cama confortável, só de cueca e com Verônica em cima de mim lambendo o meu peito.
Não poderia ser melhor. Aquele, definitivamente, era o grande momento da minha vida até então. Mas dali em diante, as minhas alegrias iriam descer morro abaixo. Quando estava refeito e pronto para atacar, ouvi a porta da rua se abrindo. “É o meu marido”, sussurrou Verônica. Dei um pulo e caí sentado no carpete do quarto. Naquela posição mesmo, fui tentando vestir a calça. Não sabia se chorava, se gargalhava ou se ficava ali, esperando o marido dela me encontrar e me parabenizar por um serviço que nem tinha sido feito.
Decidi lutar um pouco mais pela minha vida. Apenas de cueca, já me preparava para saltar a janela do quarto, mas me detive alguns segundos ao olhar minha imagem refletida no espelho de parede (sempre gostei de espelhos). Foi o tempo suficiente para selar o meu destino. O marido de Verônica entrou no quarto. Ela cobriu a nudez com o lençol. Eu olhei bem nos olhos dele e saltei. Caí em cima de algumas moitas, o que amorteceu minha queda e me valeu alguns arranhões. Saí correndo sem olhar para trás. Ao passar pela portaria dei um tchauzinho para o funcionário que guardava o edifício. Juro que vi ele tentar fechar a porta na esperança que eu fosse pego. Graças a minha rapidez, escapei. O ser humano, sempre disposto a ver o circo pegar fogo.
Os dias se passaram e eu sumi das redondezas, esperando que a poeira se assentasse. Eu sei que falando assim, parece que sou um malandro escaldado, já acostumado com os revezes na arte de cornear o próximo, mas não, como eu disse, aquilo não tinha me acontecido antes e pelo jeito não iria acontecer de novo. Segundo informações sigilosas de meus pseudo-amigos, Verônica estava a minha procura e o marido dela também. Realmente, os meus dias de Don Juan do subúrbio haviam terminado. Eu não tinha disposição nem físico para aquilo. O desejo por Verônica não era maior que o apreço pela minha vida. Resolvi dar um basta na história.
Fiquem sabendo que o homem e o rato apresentam muitas semelhanças em seus comportamentos. Eu não fujo a regra. Acuado, a melhor opção? Fuga. Era o que eu iria fazer, o que eu estava fazendo quando esta linda história começou. Que burrice a minha também, voltar em casa para pegar meus pertences. Que burrice a minha! O marido traído me esperava, armado e de tocaia. Estava abrindo a porta quando um homem me cutucou as costas. Virei e foi aí que ele disse: “Não fui com a tua cara” e bum! Tomei um balaço na testa. Eu disse anteriormente que não teria havido tempo pra mais nada, mas me enganei. O tiro que eu tomei, não saiu da arma do corno que não chegou a ser. A bala fatal veio de outro lugar.
Eis o que aconteceu: O marido traído me esperava escondido atrás de uma árvore. Do outro lado da rua, sua mulher Verônica o espionava. Quando ele me cutucou, Verônica veio correndo e empunhou uma pistola que trazia consigo. Ela mirou a nuca do esposo e bum! Meu azar foi que, aparentemente, a cabeça do corno recém assassinado era recheada com vento. A bala atravessou seu crânio sem mudança de trajetória e aconchegou-se na maciez de minha massa encefálica. Caímos. Olhos sem vida. Joelhos dobrados. Beijamos o asfalto. Juntos. Nossa dança de morte foi um ato sincronizado. Contudo, três corpos foram encontrados na manhã seguinte. Foi Verônica que se matou logo depois. Aquela filha da puta!

Por Bruno moreira
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