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Contos-->CONCORRÊNCIA DESLEAL -- 17/11/2000 - 17:01 (Cristal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Todos os dias era assim. Ela chegava em casa sempre mais tarde, cansada do trabalho. Não tinha ânimo para nada. Tomava um banho, comia e ia dormir.
Essa foi sua rotina durante anos. Até que ela se lembrou de um dia...

Quando se casou ela pensou que as coisas iriam mudar. Procurou logo um sujeito animado, que não parava em casa. Queria sair todos os dias, a vida devia ser uma festa, principalmente com companhia de alguém agitado.

Ele era cantor e tocava violão. O casal era jovem e durante um tempo, principalmente no começo, tudo era novidade. Ficar na mesa de um bar ouvindo o marido se apresentar não era tortura.
Até que com o tempo...

Foi se pegando bocejando, piscando os olhos, lacrimejando de sono, com a mão no queixo, começava a dormir em cima das mesas, todos os dias. Até que deixou de ir. Confiava no marido.

Então ela voltava para casa e ia dormir e ele lá tocando até as altas madrugadas. Ele voltava quase de dia e não via nem ela sair no outro dia cedo para o trabalho. Quase nem se viam mais. A hora em que ele estava em casa ela estava no trabalho. A hora em que ela estava em casa ele estava trabalhando. Ela começou a não gostar dessa história e um dia exigiu:

- Arrume outro emprego.

Como aquele negócio de tocar não estava dando mesmo, ele sentia-se envelhecer sem fazer sucesso. O violão era o melhor companheiro, mas sabia que não podia ficar assim. Não estava dando dinheiro. No outro dia não foi trabalhar. O Fridão, dono bar, ligou na mesma hora e disse:

- Está despedido.

Assim começou a sua labuta. Saia para procurar emprego logo cedo. Voltava a tarde cansado e chateado e nada e ainda vinha a esposa com cobranças no final do dia. Assim a relação começou a deteriorar a cada dia.

Ela o achava inútil, mas sentia-se sobrecarregada também, não tinha tempo para sí. Agora seu salário era para os dois. Pagava todas as contas. Até que num dia desses ela chegou mais tarde em casa. Sabia que ele já estaria lá. Ainda estava desempregado. Por incrivel que pareça, agora ele sempre voltava mais cedo do que ela.

Ela entrou, todas as luzes estavam apagadas, da garagem, da cozinha... Foi penetrando pelos corredores quando ouviu vozes. Parecia ter mais alguém na casa... Era uma voz de mulher. Estavam discutindo? Logo entendeu das luzes apagadas. Seria uma amante? Teriam eles perdido a hora? Ou no calor da discussão enlouquecera de vez? Devia ser uma amante dos tempos que tocava no bar! Com mil pensamentos na cabeça, resolveu adentrar pelo corredor de fininho.

Viu a porta do sala de televisão entreaberta, uma fresta fina de luz, estavam na penumbra. Imagine! Discutindo na penumbra! Ela gostava das coisas as claras. Pelo menos ele tinha preservado o quarto deles, ou melhor, agora dela. O quarto é o cérebro da casa! Só aí que percebeu que bem dentro de seu íntimo já estava desconfiada disso, desde os tempos do bar, o relacionamento vinha se afundando. Eles mal se falavam, imagine ter tempo para amar e agora desempregado é que as coisas tinham esfriado de vez. A voz de mulher falava alto, descontrolada, de repente pôs-se a chorar desesperadamente. a voz de mulher dizia:

- Você! você me enganou todo esse tempo. Você jurou que largaria dela por mim. Mas não. Não! Você só estava me enrolando...

Ela ainda no corredor de mansinho percebeu que ainda carregava a bolsa a tira colo e nos braços os pães que comprara na padaria para acompanhar a sopa do jantar. Para poder ser aproximar e ouvir melhor, resolveu voltar a sala em silêncio e deixar suas coisas lá. Quando punha a bolsa sobre o sofá esbarrou com o cotovelo sobre o aparador e o cinzeiro de cristal foi ao chão. O barulho não foi estrindente pois este caiu por sorte junto a fofura do tapete do chão, fazendo um barulho oco e surdo. Ela tremeu pois pensou que seria a hora da verdade. Se abaixou atrás do sofá se escondendo.

Ela pensou que não podia ser descoberta, ela é que queria pegá-lô em flagrante. Ela pode ouvir que ele abriu a porta da sala de tv, um clarão se fez na parede. O som da voz da mulher se calou. Deve Ter mandado ela calar a boca, pensou.

Ele olhou, olhou pela sala, nada viu, fechou a janela que tinha esquecido aberta e voltou pelo corredor vociferando. "Essa gataria da vizinhança não dá folga. Vou matar todos! Todos!"

Nesse momento ela percebeu o quanto ele estava nervoso, alterado. Ele deve Ter percebido que já estava noite. Mas por que não acendeu as luzes? Ainda bem, assim não a tinha descoberto. Voltava de longe a ouvir agora uma voz masculina, era ele justificando, ouviu dizer de mansinho, "Mas meu bem" Percebeu que ele nunca falara assim com ela. Como a voz dele estava diferente! Esse afastamento tinha mesmo contribuído para se desconhecerem um do outro.

De fininho voltou ao corredor a passos de formiga. Tinha tirado os sapatos e como a meia fina não permitia barulho, ia pegar no flagrante. A mulher voltou a chorar, devia estar nos braços dele. Essa devia ser a melhor hora.

Ouviu a voz mansa e feminina de novo dizendo. "me perdoa."

Pela fresta bem fina da porta ainda entreaberta viu que as almofadas da sala de t.v estavam espalhadas pelo chão. Avistou duas latas de cerveja e um copo de vidro ainda cheio na bancada da estante da parede do lado. Pensou. Maldito! Fez as pazes com ela! Ouviu estalar de beijos ardentes. Resolveu loucamente entrar na sala.

Abriu a porta de uma vez viu que as luzes estavam apagadas. O quarto era iluminado pela tela da televisão ligada, seu marido já roncava novamente no sofá sem camisa e suado, enquanto na novela das oito passava em alto e bom som a cena dos dois personagens principais se agarrando e dizendo um para o outro: "Ah, eu te amo, eu tem amo!"
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